Em Atalaia do Norte, servidores da Funai mantêm atendimento, mesmo após comunicado de suspensão

Área no Vale do Javari que foi isolada pela polícia durante as buscas pelo indigenista Bruno Araujo Pereira e pelo jornalista Dom Phillips. (Wilton Junior/Estadão)
Eliziane Paiva – Da Revista Cenarium

MANAUS – Apesar do comunicado enviado na última quarta-feira, 6, pela coordenação regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Atalaia do Norte, às organizações indígenas da região do Vale do Javari, quanto à suspensão do atendimento ao público “por motivos de segurança”, servidores mantêm as atividades.

Em conversa com a REVISTA CENARIUM, um servidor da Funai informou – extraoficialmente – que, embora o ofício tenha informado a interrupção dos atendimentos externos, os indígenas que compareceram ao órgão desde então não foram prejudicados e receberam assistência.

“Aqui, a gente não consegue fazer isso (suspender o atendimento) porque os indígenas continuaram vindo normalmente durante a semana passada inteira e continuaram sendo atendidos normalmente”, disse o servidor ao detalhar a presença de mães indígenas com crianças no colo e de idosos que precisam de orientações.

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Ainda que o ofício tenha informado, para cerca de dez organizações indígenas, que as atividades seriam interrompidas, os servidores da Funai de Atalaia do Norte decidiram suspender os atendimentos apenas na segunda-feira, 11, mas, como o público ainda era grande, então optaram por dar continuidade aos atendimentos.

Área no Vale do Javari isolada pela polícia durante buscas de Bruno Pereira e de Dom Phillips. (Wilton Junior/Estadão)

O comunicado da suspensão dos atendimentos, por meio de circular, surtiu efeito e uma equipe da Força Nacional chegou ao local para viabilizar o retorno dos trabalhos na instituição. “Com a chegada de uma equipe da Força Nacional, com oito agentes, houve reunião de alinhamento para o apoio na segurança e para o retorno dos trabalhos”, disse, ao informar ainda que o atendimento externo vai continuar na sede da regional.

No ofício

A unidade da Funai de Atalaia do Norte apresentou, por meio de ofício, no dia 6 de julho, que haveria a interrupção de atendimento ao público “por motivo de segurança” dos servidores e que iriam permanecer assim “até que as devidas providências sejam tomadas para a garantia da integridade física e psicológica dos servidores e dos indígenas”.

Após um mês das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips – em 5 de junho –, a coordenação da regional do Vale do Javari disse no comunicado que a “decisão tomada coletivamente pelos servidores” tinha como objetivo a “garantia da integridade física e psicológica de servidores e dos indígenas usuários deste serviço”, destaca trecho do texto.

O documento da Funai relata ainda a motivação da decisão ao citar que dois homens “não identificados de suposta nacionalidade colombiana” estiveram no local por volta de 15h do dia 1º de julho, “fato considerado suspeito por parte dos servidores desta Unidade Regional, que gerou medo e pânico diante da situação de insegurança enfrentada por todos”.

Comunicado da suspensão das atividades da Funai de Atalaia. (Reprodução)

Beto Marubo, líder da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), afirmou que o clima na região é “muito tenso” e que não houve nenhuma “providência concreta” por parte do Estado brasileiro após os assassinatos de Bruno e Dom, apenas “retórica”. “O que a gente imaginava é que depois de todos os acontecimentos no Vale do Javari, a gente supunha que o Estado brasileiro passasse a atuar, pelo menos nesse momento”, informa.

“Mas o Estado brasileiro ainda continua se abstendo da sua responsabilidade e esse é um exemplo infeliz como essa situação tem impactado no serviço público federal. É irônico. A própria Funai não consegue proteger nem os próprios servidores deles quem dirá os povos indígenas”, disse Marubo.

A coordenação menciona, ainda, no mesmo documento, ter questionado a presidência da Funai, em 18 de junho, sobre as “medidas que estariam sendo tomadas pela gestão do órgão” para garantir a integridade física e psicológica de servidores, funcionários e indígenas. A Funai é presidida pelo delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier. Segundo o setor regional, não houve “respostas práticas” até o momento.

Relembre o caso

As mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips completaram um mês dia 5 de junho. O brasileiro e o britânico faziam expedição por comunidades indígenas do oeste do Amazonas quando foram assassinados a tiros, de acordo com a Polícia Federal. Dos presos até o momento, um pescador confessou ter atirado contra os dois enquanto eles atravessavam um dos rios da região, conhecida pelo tráfico internacional de armas, drogas, pescado ilegal e outros crimes.

Veja também: Polícia Federal prende peruano suspeito de ser o mandante do assassinato de Bruno e Dom

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