Enquanto medidas restritivas atenuam Covid no AM, alta de casos assusta SC, Bahia e interior de SP

Adoção de medidas restritivas determinadas por decretos reduziu em até 79% as internações hospitalares. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

MANAUS – Enquanto o Amazonas apresenta estabilidade na pandemia, Estados como Santa Catarina, Bahia e São Paulo dispararam em novos infectados por Covid-19. Um levantamento da REVISTA CENARIUM nesta sexta-feira, 26, mostra que a adoção de medidas restritivas determinadas por decretos reduziu em até 79% as internações hospitalares.

Para analisar a flutuação entre as internações na rede pública do Estado e a instituição dos decretos de restrição de pessoas, foram determinadas datas chaves para nortear a comparação, baseada em relatórios de monitoramento epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS).

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Os fluxo dos dias 1º, 15 e 31 dos meses de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, além de 1º de fevereiro, 15 e 24 do mês atual, bem como os dias 14 de janeiro e 5 de fevereiro de 2021, respectivos picos de entradas nas unidades de referência contra Covid-19, foram traçados abaixo.

Comparativo

Gráfico de comparação entre a redução de internações e decretos de restrição de pessoas no Amazonas. (Revista Cenarium/Arte: Samuelknf)

Dezembro de 2020 sai de 32 hospitalizações no 1º e no 15º dia apresenta uma pequena redução de 12,5%, indo para 28 registros. Vale ressaltar, que a flexibilização do comércio em 28 de dezembro, ocorreu após manifestações. No fim do mês, as 101 entradas hospitalares já ressaltavam que o resultado das aglomerações com aumento de 260% em 15 dias.

Aglomeração é uma das causas do aumento de internações. (Nelson Almeida/Reprodução)

Janeiro e oxigênio

Em 2021, as internações saltaram para 287% em comparação com o primeiro dia de dezembro. Com isso, o decreto que obedeceu a determinações judiciais não impediu o ápice de 14 de janeiro, com 258 hospitalizações.

Além da rede pública colapsada, os leitos particulares também apresentavam lotação máxima, fator que quintuplicou o consumo de oxigênio além da capacidade produtiva. Aliado à estocagem de cilindros, a ação provocou a crise de abastecimento de oxigênio no Estado.

Policiais militares ajudam a carregar cilindros de oxigênio para unidades de saúde do Amazonas (Reprodução/ Internet)

A observação aponta que apesar do colapso nos primeiros 14 dias, o decreto n° 43.269 reduziu em 34,4% o índice hospitalar, quando comparado ao dia subsequente, que mostrou 169 internações. A tendência de queda seguiu e no final do mês apresentou uma drástica redução de 72% em referência à 14 de janeiro.

Fevereiro

Comparando 1º de fevereiro e 1º de janeiro, o índice de internações se manteve na casa das centenas. No entanto, os 125 registros de entrada, apresentaram uma estabilidade com acréscimo de menos de 1% entre o início dos meses. O dia também estava sob a “cobertura” da restrição de circulação de pessoas, estabelecida no decreto n° 43.303 de 23 de janeiro.

A prorrogação do decreto n° 43.303 de 31 de janeiro também influenciou na redução de 50% de entradas hospitalares em 15 de fevereiro, comparadas ao mesmo dia do mês passado, quando eram apresentados 169 registros de entrada nos hospitais de referência da Covid-19.

Foram analisados picos de entradas nas unidades de referência contra Covid-19 no Amazonas. (Mário Oliveira/Semcom)

O levantamento compilou registros até 24 de fevereiro, com um pico assinalado no dia 5. Com isso, o mês mais curto do ano catalogou 169 internações, o maior índice do período, que apesar de apresentar um percentual de 35,2%, é 2,3% maior do que 15 de janeiro, que também marcou 169 entradas.

Colapso em SC

O Estado de Santa Catarina enfrenta lotação da rede hospitalar. A taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral do Sistema Único de Saúde (SUS) está 90,43%. Santa Catarina ultrapassou, na terça-feira, 23, a marca de 7 mil mortes por Covid-19.

O lockdown começará às 23h da sexta-feira, 25, e terminará às 6h de segunda-feira, 8. (Reprodução/Internet)

Com quase 1 mil óbitos em um mês e a fim de evitar mais perdas por conta do aumento de casos e a confirmação de cinco da variante P.1, o governo estadual anunciou lockdown a partir das 23h desta sexta-feira, 26, até 6h de segunda, 1º. A medida também se repetirá no outro fim de semana, entre 23h de 5 de março e 6h de 8 de março.

Brasília

Nessa quinta-feira, 25, a alta dos casos e a crescente ocupação de leitos de combater a Covid-19 no Distrito Federal (DF) fez o governador Ibaneis Rocha decretar lockdown e suspender as atividades não essenciais. O fechamento inicia na segunda-feira, 1º de março, das 20h às 5h.

Em Brasília, a ocupação de leitos de UTI da rede pública chegou a 91,12%.(Reprodução/Internet)

O governo, por meio da Secretaria de Saúde (SES-DF), registra o total de 293.782 infectados pela doença, sendo 4.805 mortes. Até as 16h10 desta quinta, conforme o G1, a ocupação de leitos de UTI da rede pública por pacientes com Covid-19 chegava a 91,12%.

Bahia

A Bahia também passou a endurecer as medidas de combate ao novo coronavírus, decretando o toque de recolher. Inicialmente, a determinação era para que as pessoas ficassem em casa das 22h às 5h, de 19 até o dia 25 de fevereiro. O governador Rui Costa ampliou a medida devido ao aumento da ocupação de leitos UTIs que atingiu a taxa de 80% no domingo, 21.

Os leitos UTIs na Bahia atingiram taxa de 80% de ocupação no domingo, 21. (Agecom Bahia/Reprodução)

Com a mudança, a medida passou a valer de 20h às 5h em 381 cidades baianas, vigorando até o próximo dia 28 de fevereiro. A medida não se estendeu para a região oeste. Em entrevista à CNN nessa quinta-feira, 25, Rui Castro admitiu que o Estado está entrando em colapso.

Interior de SP

O município de Araraquara, no interior do Estado de São Paulo, tem 29 casos do novo coronavírus, a P.1. As 105 mortes em janeiro e fevereiro deste ano no município superou os 92 óbitos do ano passado. A ocupação de leitos na cidade continua em 100% pelo quinto dia. Segundo a prefeitura, o aumento de casos, internações e mortes pode ter relação com a variante.

A prefeitura da cidade decretou lockdown no último dia 21 de fevereiro. Inicialmente, o bloqueio total seria por 60 horas, mas vem sendo prorrogado desde então. Na terça-feira, 23, a medida foi prorrogada para 78 horas, desta vez até o meio-dia de sábado, 27.

Além da capital, casos da nova variante detectada no Brasil foram detectados em Araraquara, Jaú e Águas de Lindoia. (Reprodução/ Internet)

Efeito tardio

De acordo o pesquisador e epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesen Orellana, o aumento dos casos em Santa Catarina, Bahia, Brasília e interior de São Paulo é um efeito tardio da falta de controle das aglomerações.

“Esse é um momento bastante crítico, a gente quebra inclusive um recorde histórico do número de mortes em um mesmo dia, com mais de 1.500 mortes. Estamos mergulhados no que pode ser a pior experiência com a pandemia de Covid-19 no Brasil”, disse Orellana.

Residência onde acontecia uma festa clandestina em Manaus.(Erikson Andrade/SSP-AM)

Para o especialista, a nova variante ainda não pode ser mapeada de forma mais precisa. “Por conta da baixa capacidade de fazer o sequenciamento genético grandes quantidades de amostras simultaneamente. Então é algo bem complicado, mas a julgar pela velocidade da disseminação nas cidades citadas, é bastante provável que possam ser causadas pela P1, além de outras variantes associadas com maior transmissibilidade”, explicou Jesen.

Mesmos erros

Para o médico e infectologista Nelson Barbosa, atuante na linha de frente da Covid-19 em Manaus, caso os Estados adotassem uma leitura correta sobre a primeira onda do novo coronavírus, o novo pico da pandemia poderia ser mitigado por ações a ser acertadas. Algo que resultaria consequentemente, na redução de infectados, internações e mortes.

“O erro dos outros Estados é achar que nós estamos isolados e não estamos. Nessa época global, já era para eles terem se alertado quando o número de casos começou a aumentar aqui no Estado do Amazonas”, disse Barbosa.

Parentes de vítima da Covid-19 após enterro no cemitério Parque Tarumã, em Manaus (Reprodução/Getty Images)

“Está acontecendo a mesma coisa da primeira onda. A leitura deveria ser: ‘se já começou no Amazonas, vai chegar aqui’, com mesma força ou até pior da qual nos atingiu. Eles viram o que nós enfrentamos: o déficit de oxigênio, medicações faltando, energia faltando. Nossos tropeços já deveriam servir de alerta. As medidas nos outros estados foram impostas tardiamente, porque o vírus já está circulando”, finalizou.

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