‘Estratégia de expulsão’, diz indigenista sobre ataque em aldeia Paiter Suruí entre RO e MT

Foi na volta de um evento que os indígenas encontraram boa parte de suas moradias queimadas; uma casa feita de palha e outras duas de madeira (Reprodução/Nilson Suruí)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – A disputa por terra pode ter motivado o mais recente ataque ao povo Paiter Suruí, realizado em Mato Grosso, há quase uma semana, no dia 19 de abril justamente a data alusiva à luta e resistência dos povos originários brasileiros -. As vítimas foram o cacique Matera Suruí e mais duas lideranças da pequena e recém-fundada aldeia Pagoa Hagoia.

Foi na volta de um evento que eles encontraram boa parte de suas moradias queimadas; uma casa feita de palha e outras duas de madeira. Uma “estratégia de expulsão”, segundo a indigenista Ivaneide Cardoso (Neidinha Suruí), presidente da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé.

A suspeita é de que tenha sido um incêndio criminoso e, segundo os moradores, a comunidade vai recorrer à Polícia Federal (PF) e pedir investigação sobre o caso.

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A reportagem da REVISTA CENARIUM procurou a Fundação Nacional do Índio (Funai) para comentar o caso. A entidade disse “ter recebido” a demanda, mas não se posicionou. As corporações da Polícia Federal, em Brasília e no Estado de Mato Grosso, também acionadas, não responderam.

Em toda a aldeia vive apenas 10 habitantes, divididos em quatro famílias. O lar dos indígenas está localizado em Rondolândia (MT), na divisa com Rondônia, a 1.600 quilômetros de Cuiabá.

A casa do cacique Matera Suruí, feita de palha, destruída após o incêndio na aldeia Pagoa Hagoia (Reprodução/Nilson Suruí)

Expulsar para se apossar

Para Cardoso, o motivo é claro: a cobiça pelo território indígena e os recursos naturais resguardados por ele, o tipo de prêmio preferido de madeireiros, garimpeiros, desmatadores e grandes fazendeiros. O povo Paiter Suruí é dono de uma grande porção de terra, a Terra Indígena (TI) Sete de Setembro, com quase 250 mil hectares e 28 aldeias reconhecidas, entre Rondônia e Mato Grosso.

A Terra Indígena Sete de Setembro tem quase 250 mil hectares, dividida em 28 aldeias (TV Cultura/Reprodução)

“A região da aldeia Pagoa Hagoia é uma localidade onde há muita pressão sobre a Terra Indígena e sobre o povo Paiter Suruí. Os fazendeiros ao redor ficam pressionando para que os indígenas arredem a terra”, revela a indigenista e presidente da Associação Kanindé.

“O governo federal promove e defende o arrendamento e a mineração. Por isso, os invasores vão querer se apropriar do território indígena e expulsar os indígenas de lá. Eles correm muito perigo”, acrescentou Ivaneide Cardoso.

Cardoso diz que “o discurso do arrendamento é muito perigoso e incentiva que os invasores prossigam com a pressão, como uma estratégia para expulsar os habitantes originários” (Reprodução/Arquivo Pessoal)

‘Salvos’ por um evento

Segundo o filho do cacique Matera Suruí, Nilson Mopilapalakar Suruí, o denunciante do ataque, diz que só não aconteceu algo pior porque os habitantes da aldeia participavam, naquele dia, de um evento realizado na Câmara Municipal de Ariquemes, município de Rondônia, distante cerca de 200 quilômetros de Porto Velho. A ação, onde os moradores da aldeia se apresentaram, celebrava o Dia dos Povos Indígenas. Uma data ‘de festa’ que terminou em tristeza.

De acordo com as lideranças, a aldeia havia sido fundada recentemente e os moradores ainda estavam adquirindo equipamentos e materiais para construírem novas casas; informações confirmadas pela Kanindé, entidade que promove a defesa dos povos tradicionais de Rondônia e região. 

Os indígenas contabilizam a perda de vários bens, devido ao incêndio, como um gerador de energia elétrica recém-comprado. 

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