Estudo avalia degradação ambiental e cataloga anfíbios no Cone Sul de Rondônia

A relação entre corrida agropecuária e os animais é analisada há cerca de dois anos (Reprodução/Prefeitura de Vilhena)

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Um estudo avalia mudanças ambientais em Vilhena, o quarto maior município de Rondônia, a 705 quilômetros da capital Porto Velho. Conhecida como “Cidade Clima da Amazônia”, o local, que é destaque na produção e exportações agrícolas, também tem buscado equilíbrio entre perpetuação de anfíbios e da fauna local para promover desenvolvimento sustentável.

A relação entre corrida agropecuária e os animais é analisada há cerca de dois anos, por meio do levantamento de anfíbios anuros do Cone Sul de Rondônia, que contempla também a fauna de Vilhena com pesquisa. O estudo é feito em parceria entre o Instituto Federal de Rondônia (Ifro), do campus da cidade de Colorado do Oeste, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de contar com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vilhena (Semma).

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O município alcançou em 2019, o primeiro lugar entre os 52 municípios do Estado, ao exportar 25,2% de toda a colheita que incluem a soja, a carne e o algodão, que sozinho gerou R$ 162 milhões. No ano seguinte, o crescimento sobre os números já impressionantes foi de 47,5%, o que resultou em quase R$ 2 bilhões em exportação de algodão.

Equilíbrio

O secretário da pasta municipal, Rafael Mazeiro, explica que a escolha de estudos pelos anfíbios anuros, que são sapos, rãs e pererecas da região, servem como um “termômetro” da degradação, que pode ser mensurada por meio da presença ou ausência desses animais, que são muito sensíveis à umidade, pluviometria e mudanças de temperatura.

De acordo com informações da pasta municipal, o levantamento também vem catalogando e descobrindo novas características e peculiaridades das espécies locais. Na fase anterior, os pesquisadores encontraram um espécime raro: a rã Phyllomedusa camba, conhecida também como “perereca-macaco”. Isso ocorre pelo fato do animal possui dedos “polegares” opositores, que lhe dão habilidade de agarrar galhos e folhas, além de caminhar e não só pular para se locomover. O animal exótico, que também vive em regiões do Peru e da Bolívia, é considerado ameaçado de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN Red List).

 Phyllomedusa camba, conhecida também como “perereca-macaco” (Reprodução/Prefeitura de Vilhena – RO)

“O estudo tem como objetivo comprovar, por meio de um levantamento, que a quantidade dos animais encontrados nas florestas nativas, típicas da região, é a mesma encontrada nas lavouras plantadas. Queremos mostrar que essa harmonização pode, sim, existir, e, dessa forma, preservar o meio ambiente sem comprometer a renda das atividades agropecuárias, diz Rafael Mazeiro.

Comparações

Mazeiro também explica que entre os objetivos do projeto, está a comparação dessas mesmas espécies de animais, que vivem em florestas nativas, com os que vivem nas proximidades de propriedades rurais que aderem ao Sistema de Integração, Pecuária e Floresta (ILPF), que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) explica como a utilização de diferentes sistemas produtivos dentro de uma mesma área, otimizando o uso da terra, insumos e diminuindo a emissão de gases de efeito estufa. 

“Já foram levantadas mais de 100 espécies, podendo haver espécies novas, correndo, inclusive, risco de extinção aqui na região”,

diz Rafael Maziero, secretário municipal de Meio Ambiente

Além de Vilhena e Colorado do Oeste, onde o estudo também acontece, o levantamento para identificar a presença desses animais deve atingir, também as demais cidades da região do Cone Sul de Rondônia: Cabixi, Cerejeiras, Chupinguaia, Corumbiara e Pimenteiras do Oeste. O estudo, que cataloga as espécies encontradas, deve ajudar ainda, no controle de doenças em humanos. 

Os anfíbios anuros são importantes aliados para as lavouras próximas, pois comem, em média, mil insetos por dia. “O desaparecimento de uma espécie causa um desequilíbrio ambiental geral, em razão da quebra de cadeia alimentar, possibilitando o surgimento de pragas. Prejudicando, também, a qualidade da produção das atividades agropecuárias”, esclarece o secretário.

Velho conhecido

O resultado final do estudo será publicado em revistas de grande circulação nacional e internacional, de cunho científico, ficando também disponível, posteriormente, em livre acesso para todo o público. Além disso, até mesmo espécies consideradas comuns são avaliadas, como é o caso do sapo-cururu, da espécie Rhinella marina, nativo das Américas Central e do Sul.

O levantamento que analisou as espécies dos anfíbios é coordenado pelo professor do Curso de Ciências Biológicas do Instituto Federal de Rondônia, Rafael Fonseca, e conduzido pela estudante Gabriela Bersch. A futura bióloga destaca que o animal usa a tática de defesa, de ficar imobilizado para despistar os predadores. “Essa tática se chama tanatose. Funciona para despistar os predadores que não costumam comer bichos mortos”, explica Bersch.  

Sapo-cururu come até mil insetos por noite. (Reprodução/Prefeitura de Vilhena – RO)

“O sapo-sururu já foi encontrado em diferentes ambientes no local de estudo, podendo indicar que a integração lavoura, pecuária e floresta mantém a riqueza e a biodiversidade das espécies. Esses animais têm grande importância ambiental, pois podem comer até mil insetos por noite. Uma característica muito interessante, é que caso a população desses animais caia drasticamente, os machos podem se diferenciar em fêmeas e assim perpetuar a sua espécie”, detalha Fonseca.

Além disso, o coordenador também aponta que um dos métodos de defesa do sapo-cururu são as glândulas paratoides, que, quando pressionadas, liberam um veneno viscoso e branco, conhecido como bufotoxina. “Caso esses animais sejam destruídos pela cabeça, a glândula será pressionada e o predador pode até morrer”, finaliza o especialista.

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