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Estudo revela que fumaça de incêndios florestais mata 12 mil pessoas por ano
Fumaça de queimadas da Amazônia encobre a cidade de Manaus, capital do Amazonas (Edmar Barros/20.ago.2022/Folhapress)
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07 de maio de 2023
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO – Incêndios florestais liberam minúsculas partículas de fumaça de até 2,5 micrômetros de tamanho (MP2,5), que impactam, negativamente, a saúde humana. Partículas de fumaça das queimadas na bacia amazônica percorrem grandes distâncias, afetando a qualidade do ar em vários países da América do Sul.
Um novo estudo publicado na revista Environmental Research Health revela que a fumaça dos incêndios florestais, na América do Sul, foi responsável por cerca de 12 mil mortes prematuras, a cada ano, de 2014 a 2019 — 55% dessas mortes ocorrem no Brasil. Regiões no Peru, Bolívia e Brasil são focos específicos de exposição à fumaça, com taxas de mortalidade seis vezes maiores que a da população em geral.
A novidade desse estudo foi usar uma combinação de modelos de transporte de partículas na atmosfera e medidas de concentração de MP2,5 para estimar a taxa de mortalidade prematura, ao invés de analisar dados de internação hospitalar.
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Como populações indígenas na América do Sul ainda têm acesso limitado a serviços de saúde, dados hospitalares resultariam em uma subestimação dos efeitos da exposição à fumaça. O estudo mostra que os povos indígenas têm duas vezes mais chances de morrer prematuramente devido à exposição à fumaça das queimadas do que a população sul-americana em geral.
A taxa de queimadas na América do Sul aumentou nos últimos anos. Esse crescimento é impulsionado pela degradação florestal, devido à atividade humana, em grande parte de forma ilegal, como mineração, extração de madeira e uso da terra para diversos fins agrícolas. A exposição é muito maior durante a estação seca da Amazônia, de agosto a novembro, quando os incêndios florestais mais do que dobram o aumento nas concentrações de MP2,5.
No Brasil, dados recentes do MapBiomas mostram que a Amazônia concentra 44,6% da área queimada, no Brasil, entre 1985 e 2022. Cerca de 44% dessa área queimada, na Amazônia, foi de vegetação nativa e 56% em áreas de pastagem. Queimadas recorrentes também são comuns. Na Amazônia, a área queimada de duas a quatro vezes correspondeu a 47% do bioma e 21% queimaram cinco ou mais vezes no período.
Territórios indígenas respondem por, relativamente, poucos incêndios na bacia amazônica. A demarcação oficial de terras indígenas é um fator determinante para preservação da floresta e, portanto, contribui para a manutenção da biodiversidade e a regulação do clima.
Atividades ilegais de garimpo, entretanto, são uma ameaça à preservação ambiental e à saúde indígena. Dados do MapBiomas mostram que, de 2010 a 2021, a área ocupada pelo garimpo, dentro terras indígenas, cresceu 625%. Os territórios indígenas mais afetados são Kayapó e Munduruku, no Pará, e Yanomami, nos Estados de Amazonas e Roraima. As consequências negativas do garimpo, na saúde indígena, foram expostas no início do ano, com a crise humanitária no território Yanomami.
As mortes indígenas por exposição à fumaça de queimadas, por doenças infecciosas, desnutrição, violência e doenças crônicas e degenerativas, resultantes da contaminação por mercúrio, são prematuras e, portanto, evitáveis. Essas mortes são resultantes de um modelo de desenvolvimento perverso que se baseia na exploração de recursos. Um modelo que tem suas raízes no período colonial e foi reinventado com nuances variadas — e igualmente perversas — ao longo do tempo.
A criação dos ministérios dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos, e a possibilidade de que, junto com os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, possam trabalhar em conjunto para melhorar a saúde indígena traz esperança. O tempo, entretanto, urge. Qualquer morte prematura é um número alto demais.
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