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Ex-esposa de Pazuello afirma que Governo Bolsonaro usou Manaus como laboratório na pandemia: ‘Eu estava lá’
Ex-esposa de Pazuello revela bastidores da saúde no Amazonas (Arte: Mateus Moura)
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25 de outubro de 2022
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – Andrea Barbosa, ex-esposa do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nessa segunda-feira, 24, em publicação no Instagram, que estava em Manaus quando o governo federal fez a capital amazonense de “laboratório” para provar a imunidade de rebanho, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Ela declara que o experimento ocorreu durante a “crise de oxigênio”, em janeiro de 2021.
“Eu estava lá quando Manaus foi feita de laboratório para testar imunidade de rebanho (isso mesmo, aquela mesma que se testa em gados)”, conta, complementando que também viu a cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz, sendo distribuída para grávidas pelo aplicativo TratCov.
“Eu estava lá quando milhares de caixões eram enterrados em valas porque o cemitério já não tinha espaço e o presidente dizia que não era coveiro e, portanto, não tinha nada com isso”, diz ainda.
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À REVISTA CENARIUM, o Ministério da Saúde afirmou que desde o início da pandemia da Covid-19 atuou de “forma célere e transparente” para agilizar as medidas de prevenção, proteção e cuidado da população brasileira.
O aplicativo TratCov chegou a ser citado durante depoimentos da CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília, que apurou crimes cometidos na saúde do Amazonas. Na época, Pazuello afirmou que o aplicativo teria sido “hackeado” e que não havia saído do período de testes.
Ao contrário do que disse Pazuello, a plataforma chegou a ser lançada oficialmente em Manaus, inclusive com a presença da secretária de Gestão do Trabalho da Saúde, Mayra Pinheiro. O aplicativo prometia indicar pessoas infectadas a partir dos sintomas do coronavírus, sem uma realização efetiva de testes.
“Enquanto isso, nos bastidores a equipe do Ministério da Saúde distribuía cloroquina, esbaldava-se com whiskies caros e taifeiros do exército servindo a alta burguesia da cidade sem oxigênio”, relata Andrea sobre o comportamento dos oficiais.
Andrea reitera que a “mídia de direita” quer vender a imagem de que ela é apenas uma mulher traída e rancorosa em busca de degradar a imagem do ex-marido, mas que as denúncias não são por motivos pessoais e sim de “humanidade”. “Eu simplesmente estava em Manaus a contragosto, mas estava. Naquele momento eu ainda acreditava na salvação de um casamento e topei o desafio”, diz.
Sem perdão
“Eu surtei, eu confesso. Foi demais pra mim. Deus me fez humana demais pra não compactuar, não aceitar, me revoltar contra tudo isso“, escreveu Andrea ao afirmar que nunca vai perdoar o governo e quem compactuou com ele.
Na visão de Andrea, a capital do Amazonas foi escolhida para ser feita de laboratório por conta das dificuldades logísticas e pelo controle da mídia. “Manaus, essa cidade de lonjuras e dificuldades logísticas foi o instrumento certeiro para as maiores atrocidades“, relata.
“Eles não testariam pessoas do Sul e do Sudeste, os noticiários não perdoariam. Mas em Manaus a mídia é comandada pelo governo e eles replicam conforme a verba que é destinada“, conclui.
Amazônia de cobaia
Em agosto de 2021, a revista física da REVISTA CENARIUM trouxe denúncias de pacientes de baixa renda feitos de “cobaia” na capital amazonense, por meio da prescrição do “Kit Covid”. A reportagem mostrou receitas que continham medicamentos do tratamento precoce. Além da hidroxicloroquina, foram receitados também ivermectina e azitromicina.
De acordo com o senador Omar Aziz, que presidiu a CPI da Covid, a prescrição de medicamentos sem comprovação científica em Manaus contribuiu diretamente para as mortes dos infectados nos primeiros meses de 2021.
Em entrevista exclusiva à REVISTACENARIUM no ano passado, Aziz falou sobre o uso de Manaus como laboratório de testes. “Manaus foi usada como cobaia. Um experimento que cientificamente já estava provado que não tinha resultado nenhum, e insistiram nisso“, disse.
Pesquisa apontou piora
Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Amazônia), em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), apontou que pacientes que disseram ter ingerido ivermectina ou outros medicamentos para “prevenir” a Covid-19 apresentaram maiores taxas de infecção que pessoas que não usaram nenhum medicamento.
O resultado fez parte de um estudo que analisou os fatores de risco da pandemia em Manaus e que foi remetido, em fevereiro deste ano, para publicação em uma revista científica internacional.
“Se eu acredito que essa droga previne, o que é que acontece? Eu baixo a minha guarda. Porque eu tomei a medicação que eu acredito que me protege”, explicou uma das autoras do artigo, a professora da Ufam Jaila Dias Borges, ao Jornal El País.
De acordo com informações da Ufam, um total de 3.046 moradores da cidade participaram do estudo. Os pesquisadores analisaram amostras de sangue dos voluntários para detectar a presença de anticorpos frente ao novo coronavírus, o que representa sinal de uma infecção prévia.
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