Festival cultural de Manaus terá custo de R$ 13 mi; evento deixa de fora atrações de matrizes africana e indígenas

Festival #SouManaus Passo a Paço, em 2022 (Divulgação)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Criado para celebrar o aniversário da capital do Amazonas, o Festival #SouManaus Passo a Paço, que acontece nos dias 5, 6 e 7 de setembro de 2023, com investimento previsto de R$ 13 milhões, cerca de R$10 milhões a mais do que gasto no ano anterior. Apesar de incluir atrações cristãs em sua grade religiosa, o festival deixou de fora artistas de matrizes africana e indígenas, entre os mais de 600 artistas confirmados.

Realizado desde 2015, o Festival ocupa o Centro Histórico de Manaus, no entorno do Museu do Paço da Liberdade, antigo prédio da Prefeitura, que dá nome ao evento. Produzido todos os anos, com exceção de 2020 e 2021, quando foi suspenso por conta da pandemia da Covid-19.

Trecho da proposta de orçamento enviada à Câmara Municipal de Manaus (Reprodução)

Na edição de 2022, o evento passou a ter programação específica para artistas religiosos, considerando apenas cantores e artistas cristãos, católicos e evangélicos. O cantor gospel André Valadão, o padre Antônio Maria, o grupo Tambores Pentecostais, Banda Templos, a cantora Bruna Karla, Leandro Borges, Jander Rios, Maranata Worship, Art Trio e Tony Alysson, foram atrações voltadas para o público cristão, que se apresentaram no último dia do festival, sem espaço para outras religiões.

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Line-up cristã do Passo a Paço, em 2022 (Reprodução)

O evento

Além das atrações musicais, o #SouManaus Passo a Paço inclui um circuito gastronômico e atividades artísticas diversas, com apresentações teatrais, circo, fantoches, espaço para visitação a obras de arte, pinturas, artesanato, dança, competições e outros.

Em 2023, a expectativa da Prefeitura é superar o público de 2022, que atingiu a marca recorde de 380 mil pessoas. Na edição de 2019, o evento concentrou 201 mil pessoas ao longo da programação. No ano anterior, mais de 93 mil estiveram no festival. Em 2017, reuniu 50 mil. Já em 2016, levou 64 mil pessoas ao Centro Histórico de Manaus. Em 2015, ocorreram as duas primeiras edições do Passo a Paço, com público estimado em 63 mil pessoas.

Representatividade

Neste ano, a reserva de espaço apenas para artistas cristãos e a falta de representatividade religiosa e indígena, naquele que é o Estado mais indígena do País, voltou a ser alvo de críticas por parte do público. Entre as 12 atrações nacionais confirmadas, a Prefeitura de Manaus destaca como atrações religiosas, os cantores cristãos: Padre Fábio de Melo, Isadora Pompeo, Israel Salazar e Somos Amém / Casa Workship.

Trecho do texto publicado pela Prefeitura de Manaus, destacando as atrações cristãs como “religiosas” (Reprodução)
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A Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) revelou, em texto publicado no último dia 17 de julho, que ainda há atrações a serem divulgadas. “Até agosto, todos os artistas selecionados serão anunciados, por meio das redes sociais oficiais da Prefeitura de Manaus e Manauscult. Vale ressaltar que a curadoria da Manauscult vai priorizar aqueles artistas que ainda não tiveram oportunidade de participar de nenhuma edição do #SouManaus”, escreveu.

A jornalista e advogada, mestre em Direito Constitucional, especialista em Direito Público, Direitos Humanos e Processo Civil, Africanidades e Cultura Afro-brasileira, Luciana Santos, que integra o conselho editorial da REDE CENARIUM, questiona em sua análise sobre o festival se “entre os manauaras só existem católicos e evangélicos?“.

Só para lembrar os fatos mais recentes, o Réveillon, na Ponta Negra, contou com uma megaestrutura para o ‘espaço gospel’ e diversas atrações nacionais evangélicas (com altos cachês, é importante ressaltar), enquanto o espaço onde ocorre há mais de uma década o Festival de Yemanjá não teve o mesmo investimento e os organizadores do evento esperaram até o último momento o cumprimento da promessa de que haveria, dentre os contratados pelo poder público municipal, uma atração nacional“, lembrou a especialista.

À época, a REVISTA CENARIUM destacou que a Prefeitura de Manaus proporcionou a realização do Ano Novo Cristão, enquanto dificultava a realização do Festival de Yemanjá. O prefeito de Manaus, David Almeida, justificou que 45% da população manauara é evangélica e, por isso, a existência do evento gospel era importante. “Quero respeitar todas as formas culturais, artísticas e religiosas. Vivemos em uma sociedade representativa, […] Então, estamos preparando uma grande festa da virada para 2023 com muito louvor, adoração e convidados especiais, em uma noite que será inesquecível“, disse durante anúncio da festividade.

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Atrações nacionais confirmadas no #SouManaus Passo a Paço 2023 (Divulgação)
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