‘Ou a gente corria, ou gritava para salvar os vizinhos’, diz sobrevivente de tragédia em Manaus

Na comunidade, moravam mais de 70 famílias, a maioria venezuelanas (Ricardo Oliveira/REVISTA CENARIUM)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Não teve tempo, ou a gente corria para se salvar, ou gritava para salvar os vizinhos e os animais“. A declaração é da dona de casa Elane Fiuza Freire, que residia na Comunidade Brasilerândia, bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus, local onde ocorreu um deslizamento de terra que matou oito pessoas no domingo, 12.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, a dona de casa afirmou que, além de perder a residência no desastre, também perdeu o cachorro que morreu sufocado. Ficou tudo para trás, roupa, documento… Ou a gente saía, ou ficava e perdia a vida. Até meu cachorro, que estava amarrado, morreu sufocado. Infelizmente, ele ficou lá, morreu soterrado, não tive como [salvar]. Os vizinhos também, os cachorros e galinhas que tinham, tudo morreu”, lembrou ela.

A dona de casa Elane Fiuza Freire morava no local com o companheiro (Ricardo Oliveira/REVISTA CENARIUM)

A dona de casa relembrou o momento de desespero. De acordo com Elane, minutos antes da tragédia acontecer faltou energia elétrica na comunidade, o que fez alguns vizinhos saírem das suas casas. Foi neste momento que o barranco acima das residências despencou. “Quando a energia foi embora, felizmente, a gente saiu. E quem conseguiu sair, nessa hora, conseguiu sobreviver”, afirmou.

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A Comunidade Brasilerândia, no bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus (Reprodução/Gildo Smith)

Entre os mortos, quatro são crianças, e metade das vítimas pertencia a mesma família. Elane dividia um imóvel com o companheiro e perdeu tudo. Na comunidade moravam mais de 70 famílias, a maioria venezuelanos.

O deslizamento no bairro Jorge Teixeira ocorreu por volta das 20h de domingo, 12, após fortes chuvas atingirem a capital durante todo o dia. Segundo a Defesa Civil do município, a média de chuva, nas últimas 24 horas, foi de 97,2 milímetros (mm), e a média prevista para março é de 251mm. Na Zona Leste, área onde ocorreu a tragédia, foram registrados 102,6mm de chuva.

Veja fotos do local:

Famílias desabrigadas

Os venezuelanos Carlos Salazar e Maria Beraza residiam há mais de dois anos na comunidade, junto com outros familiares. Pelo menos 20 pessoas da mesma família moravam na Comunidade Brasilerândia. Agora, todos estão desabrigados. “A gente estava aqui fora [da casa] porque não tinha energia, aí começou a cair o barranco e a gente começou a correr. Só falei para minha mulher e a gente correu”, lembrou ele.

Os venezuelanos Carlos Salazar e Maria Beraza residiam na comunidade junto a outros familiares (Ricardo Oliveira/REVISTA CENARIUM)

A venezuelana Maira Castillo não imaginava que poderia ocorrer o desabamento, apesar de haver preocupação com inundações no local. “A gente não sabia que ia acontecer, imaginávamos que podia acontecer uma inundação por causa das condições, da água da chuva, mas isso [o deslizamento] a gente não esperava”, complementou.

Maira Castillo e a filha moravam na comunidade há pouco mais de um ano (Ricardo Oliveira/REVISTA CENARIUM)

Áreas afetadas

Além do deslizamento de terra, no bairro Jorge Teixeira, as fortes chuvas do domingo ocasionaram o desbarrancamento de uma encosta na Rua Frei Ciro, bairro Monte das Oliveiras, também na Zona Norte, causando impactos a 34 famílias, de acordo com a Prefeitura de Manaus.

O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), anunciou, nesta manhã, a publicação do decreto de calamidade pública. Em coletiva de imprensa, o prefeito afirmou que a cidade tem mais de mil áreas de risco e destas, 62 são de extremo risco. “A Defesa Civil tem esse levantamento, mas para essas 62 áreas prioritárias, nós vamos buscar intervenções com urgência”, declarou David Almeida.

Apenas no desastre ocorrido no bairro Jorge Teixeira, 75 famílias ficaram desabrigadas e ficarão abrigadas, temporariamente, em uma escola pública localizada no mesmo bairro. O deslizamento atingiu 20 residências e as famílias receberão aluguel social no valor de R$ 600.

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