Indígena recebe prêmio Goldman após impedir mineração no Mato Grosso e Pará

Alessandra Munduruku receberá o Prêmio Goldman de Meio Ambiente nesta segunda-feira (24) nos EUA - Goldman Environmental Prize/Divulgação
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO – A liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, 38, receberá nesta segunda-feira, 24, o prêmio Goldman de Meio Ambiente, em cerimônia na cidade de San Francisco, nos Estados Unidos. Concedido pela Fundação Goldman, o prêmio está entre os principais reconhecimentos internacionais a ativistas de movimentos ambientais de base.

A escolha pelo nome de Alessandra reconhece o êxito da campanha Munduruku ao barrar os planos da mineradora britânica Anglo American, que já tinha requerimentos aprovados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) para pesquisar cobre em TIs (terras indígenas) em Mato Grosso e Pará.

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Alessandra rema uma pequena embarcação em um igarapé enquanto olha para o alto em meio à floresta.
Liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, reconhecida com o Prêmio Goldman de Meio Ambiente de 2023 – Goldman Environmental Prize/Divulgação

Após sete meses de campanha do povo munduruku, com protestos, petições e reuniões com a mineradora, em maio de 2021 a multinacional desistiu dos 27 requerimentos —13 deles tinham como alvo o território onde vive Alessandra: a TI Sawré Muybu, no sudoeste do Pará.

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“Dizem que ganhamos uma batalha contra uma poderosa mineradora. Mas não achamos que ela é poderosa. O que é poderoso para nós são os nossos rios, nossas terras, nossos espíritos”, afirma Alessandra.

A campanha contra a entrada da Anglo American em terras indígenas foi organizada junto à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a ONG Amazon Watch.

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Retrato de Alessandra com a floresta ao fundo; ela é uma mulher indígena de cabelos longos e escuros, com pinturas no braço e no rosto; no pescoço usa um colar com penas vermelhas
Alessandra Munduruku receberá o Prêmio Goldman de Meio Ambiente nesta segunda-feira, 24, nos EUA – Goldman Environmental Prize/Divulgação

“Essa foi nossa segunda vitória. Em 2016 a gente já tinha conseguido barrar a usina hidrelétrica São Luiz do Tapajós”, recorda Alessandra. O projeto do governo federal teve seu licenciamento ambiental barrado pelo Ibama, após pressão do povo Munduruku, que teria parte do seu território inundado pela obra.

“Nós sofremos nos últimos quatro anos, mas também já sofríamos no governo Lula, com projetos como o da usina de Belo Monte e de Teles Pires, que matou locais sagrados para os Munduruku”, ela cita. “Hoje ainda sofremos várias pressões: grileiros, garimpeiros, madeireiros, abrindo buracos enormes no nosso território.”

Um passo fundamental para aumentar a proteção do território é a conclusão da demarcação da terra indígena. “A demarcação do nosso território estava pronta para assinatura do presidente, quando o [ex-presidente] Bolsonaro disse que não ia demarcar nem mais um centímetro, aí o processo retrocedeu. Agora esperamos que, com a Joenia [Wapichana, presidente da Funai], siga a demarcação”, diz Alessandra.

Liderança indígena da região do médio Tajapós Alessandra Munduruku.
Liderança indígena da região do médio Tajapós Alessandra Munduruku. Zô Guimarães – 13.mar.2021/Folhapress

A ausência de novas demarcações no governo Lula tem frustrado lideranças indígenas, que esperavam novas demarcações ainda no início da gestão. A demanda por demarcação será tema central do Acampamento Terra Livre, que acontece em Brasília nesta semana.

“O Ministério dos Povos Indígenas não serve para nos calar. A Sônia [Guajajara, ministra] é uma só. Nós ainda temos que ser ouvidos. O que o Lula e o Helder Barbalho [MDB, governador do Pará] foram fazer na China? Defender ferrovia para o agronegócio. É para o agronegócio que eles estão vivendo”, afirma Alessandra, que já havia sido reconhecida em 2020 com o prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, também nos EUA.

Além de Alessandra, o prêmio Goldman de Meio Ambiente será recebido também por outros cinco ativistas, de Zâmbia, Indonésia, Turquia, Finlândia e Estados Unidos.

Criado em 1989 pelos filantropos Rhoda e Richard Goldman, o prêmio ajuda a dar notoriedade global a líderes de movimentos locais e populares. “Muitos passaram a ocupar cargos como funcionários governamentais, chefes de Estado, líderes de ONGs e até laureados com o prêmio Nobel”, afirma a organização do prêmio.

QUEM SÃO OS OUTROS VENCEDORES DO PRÊMIO GOLDMAN 2023

Chilekwa Mumba, Zâmbia

Venceu uma ação judicial no Supremo Tribunal do Reino Unido contra a poluição gerada em Copperbelt, na Zâmbia, por uma mineradora controlada por uma empresa britânica. A punição por danos ambientais em outro país abriu um precedente legal que também responsabiliza a Shell global pela poluição gerada na Nigéria.

Zafer Kizilkaya, Turquia

Expandiu a rede de áreas marinhas protegidas da Turquia ao longo de 498 km da costa do Mediterrâneo, criando 350 km² de áreas sem pesca de arrasto e mais de 70 km² de zonas sem pesca.

Tero Mustonen, Finlândia

Organizou a restauração de florestas degradadas e antigas áreas de mineração em toda a Finlândia, em um total de 62 áreas que somam 34,8 mil hectares e conservam um ecossistema pantanoso chamado turfeira, que cobre um terço do país e é uma das maiores reservas de carbono do planeta.

Delima Silalahi, Indonésia

Recuperou o direito de seis comunidades indígenas sobre territórios que haviam sido convertidos em monoculturas de eucalipto para fabricação de papel e celulose. O ativismo de sua comunidade levou à restauração de 7.211 hectares de floresta tropical.

Diane Wilson, Estados Unidos

Venceu um caso histórico na Justiça americana contra uma das maiores petroquímicas do mundo, a Formosa Plastics, condenada a pagar US$ 50 milhões pelo despejo ilegal de resíduos plásticos na costa do Golfo do Texas. A empresa também se comprometeu a pagar multas até cessar o despejo e financiar a remediação do dano na região.

(*) Com informações da Folhapress

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