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Missa com adeptos de religiões de matriz africana é alvo de ataques em Manaus
Comentário de ódio contra religião de matriz africana (Composição: Mateus Moura/Revista Cenarium)
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21 de janeiro de 2024
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Pelo segundo ano consecutivo, a missa em comemoração ao Dia de São Sebastião, realizada na igreja de mesmo nome, localizada na Rua 10 de julho, no Centro de Manaus, Zona Sul da capital, recebeu críticas e intolerância religiosa nas redes sociais. Isso ocorreu porque a cerimônia abriu as portas, como faz há 20 anos, aos adeptos das religiões de matriz africana, em um exemplo de humanidade, amor e respeito às diferenças.
A confraternização da igreja com o “Povo de Terreiro” em comemoração a São Sebastião — que sincretiza com Vodún Shapanan, protetor contra doenças, especialmente a varíola, e com Oxóssi, entidade guerreira associada ao conhecimento e às florestas — iniciou em 2004. No ano passado, a REVISTA CENARIUM mostrou que o Frei Paulo Xavier, que conduziu a cerimônia, recebeu ataques e mensagens de ódio.
Desta vez, os comentários de intolerância religiosa foram publicados em um vídeo do jornalista Fabrício Mendes, que registrou a missa. Ao se deparar com os ataques, ele ficou revoltado: “É lamentável se deparar com comentários tão vazios, tão cheios de ódios, por conta da visita da religião de matriz africana dentro da paróquia, celebrando o amor, celebrando Deus, que é Pai de todos nós“.
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Veja o vídeo:
Nos comentários, muitas declarações se referem às religiões de matriz africana como “pagãs”, “falsas doutrinas” ou chamam os adeptos como “macumbeiros”. “Eucaristia sendo dada a pessoas de fé pagã! Pagã sim e isso é profanação!“, afirma uma pessoa.
“Pároco da Igreja de São Sebastião cometendo abusos litúrgicos. A cada dia que passa essa igreja vem nos martirizando com tantos abusos. Primeiro um vídeo gravado dentro da igreja de um clipe musical totalmente desconexo com nossa fé, agora em comunhão com falsas doutrinas. Nós leigos teremos que ensinar padres a celebrar missas!?“, afirma outra.
O coordenador-geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), pai de santo Alberto Jorge, afirmou que todos os comentários ofensivos foram denunciados por intolerância religiosa.
“Uma boa notícia aos intolerantes religiosos: o Disque 100, do Ministério da Igualdade Racial, acatou nossa denúncia contra os criminosos que cometeram injúria religiosa, racismo e ódio religioso aqui. Não adianta apagar. Os prints foram feitos e devidamente encaminhados”, comentou.
Reconhecimento da igreja
Desde a proclamação do Concílio Vaticano II, em 1961, a Igreja Católica reconheceu o direito à coexistência de outras manifestações religiosas. Isto é, o clero de Roma entendeu que ninguém pode ser impedido de exercer o culto de sua escolha.
A declaração Dignitatis Humanae, aprovada no Concílio Vaticano II, instaurou a abordagem de que os adeptos de todas as religiões têm o verdadeiro direito natural a não serem impedidos de exercer seu credo.
“O direito à liberdade religiosa se funda realmente na própria dignidade da pessoa humana, como a conhecemos pela palavra revelada de Deus e pela própria razão natural. Este direito da pessoa humana à liberdade religiosa na organização jurídica da sociedade deve ser de tal forma reconhecido, que chegue a converter-se em direito civil”, reforça trecho da Dignitatis Humanae.
Sincretismo
Assim como acontece com santos como Santa Bárbara, que no sincretismo religioso brasileiro é Iansã, a orixá guerreira que rege as tempestades, os ventos, os relâmpagos e raios, São Sebastião, de acordo com Alberto Jorge, é sincretizado na Região Amazônica (principalmente no Maranhão, Pará e Amazonas) com Vodún Shapanan, protetor contra doenças, especialmente a varíola, e com Oxóssi, principalmente no Sul, Sudeste e Bahia. A entidade guerreira é associada ao conhecimento e às florestas.
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