‘Policiais tinham que perder a farda’, diz mãe de jovem morto

Ilustração: (Paulo Dutra/ Revista Cenarium)
Jessika Caldas – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Mãe de um dos jovens mortos na chacina, Arleque Roque, afirmou à REVISTA CENARIUM que a promotoria foi ótima, juntamente com o colegiado do júri, entretanto, ela esperava uma condenação mais pesada em relação aos policiais réus.

“Eles foram julgados, sim! Mas eles tinham que perder a farda e ir para a cadeia. Eu passei quatro dias sem trabalhar e aí chega na hora, o júri diz que eles são condenados e depois não vão para a cadeia? Vou responder em liberdade? Para mim, isso não foi um julgamento não. Ah, então quer dizer que eles foram condenados há 40 anos, mas eles vão responder por esse processo em liberdade, todos esses anos em liberdade. E eles vão continuar na rua? Eles vão continuar sendo PMs? Sim, eles vão continuar na rua, eles vão continuar trabalhando. O certo era para eles perderem a farda deles, não trabalhar mais. O certo era para eles vir para a cadeia ou então ir para o quartel, mas não, eles vão responder de verdade”, disse Arlete.

Seis dos sete policiais militares do Estado do Amazonas, acusados de envolvimento na chacina de três jovens, em 2016, foram condenados a 40 anos de prisão, na quinta-feira, 4. Um deles, Gleydson Enéas Dantas, foi condenado há 27 anos. Isaac Loureiro da Silva foi inocentado, e o oitavo acusado, o Luiz da Silva Ramos, teve extinguída a punibilidade em razão de sua morte no ano passado.

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Júri foi até a quinta-feira, 4. Reprodução/ TJAM

O julgamento iniciou na segunda-feira, 1º, e foi presidido pelo juiz Eliezer Fernandes Júnior. Dois promotores designados pelo Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM) atuaram na acusação: José Augusto Palheta Taveira Júnior e Lilian Nara Pinheiro de Almeida.

Entre acusação e defesa dos réus, 21 testemunhas participaram dos quatro dias em plenário, incluindo os peritos que atuaram no caso.

Arlete, mãe de Alex, se juntou a outros mães vítimas de violência policial. (Arquivo Pessoal)

Na terça-feira, 2, foi dada a continuidade da audição de testemunhas e o interrogatório dos réus, que optaram por responder às perguntas realizadas apenas pelos seus advogados.

Já na quarta, 3, teve debate entre acusação e defesa e ocupou todo o dia. Neste dia, a oitiva terminou às 19h. O Tribunal do Juri, condenou a 40 anos os PMs José Fabiano Alves da Silva, Edson Ribeiro da Costa, Ronaldo Cortez da Costa, Eldeson Alves de Moura, Cleydson Enéas Dantas e Denilson de Lima Corrêa pelo triplo homicídio qualificado praticado contra as vítimas Alex Júlio Roque de Melo, Rita de Cássia da Silva, Weverton Marinho Gonçalves.

Já Gleydson Enéas Dantas foi o que recebeu a menor pena: 27 anos de prisão. Um oitavo acusado, o PM Luiz da Silva Ramos, teve extinguída a punibilidade em razão de sua morte em 2023.

As vítimas desapareceram no sábado, dia 29 de outubro de 2016, após serem abordados por uma viatura policial na Comunidade Grande Vitória, zona leste de Manaus.

Opinião

Mãe de um dos jovens mortos na chacina, Arleque Roque, afirmou à REVISTA CENARIUM que a promotoria foi ótima, juntamente com o colegiado do júri, entretanto, ela esperava uma condenação mais pesada em relação aos réus.

“Eles foram julgados, sim! Mas eles tinham que perder a farda e ir para a cadeia. Eu passei quatro dias sem trabalhar e aí chega na hora, o júri diz que eles são condenados e depois não vão para a cadeia? Vou responder em liberdade? Para mim, isso não foi um julgamento não. Ah, então quer dizer que eles foram condenados há 40 anos, mas eles vão responder por esse processo em liberdade, todos esses anos em liberdade. E eles vão continuar na rua? Eles vão continuar sendo pênis? Sim, eles vão continuar na rua, eles vão continuar trabalhando. O certo era para eles perderem a farda deles, não trabalhar mais. O certo era para eles vir para a cadeia ou então ir para o quartel, mas não, eles vão responder de verdade”, disse Arlete.

Em 2017, houve um protesto realizado por familiares das vítimas, na região da Bola do Produtor, bairro Jorge Teixeira, zona Leste de Manaus. Segundo a Polícia Civil, na época, Alex era apontado como traficante que teria supostamente ordenado a execução de uma líder comunitária devido a denúncias e estaria supostamente planejando matar três policiais militares pelo mesmo motivo.

“Não esqueço do meu primogênito um dia. Se ele devia para a polícia, ele deveria ter sido punido para que todo sábado e domingo eu pudesse abracar e beijar meu filho, mas eles me tiraram esse direito. Só quem tira a vida é Deus. Mas se a justiça do homem for falha, a de Deus não é”, diz trecho de um protesto realizado por Arlete Roque.

Prisão anterior

Em 2016, os policiais militares envolvidos no caso foram presos nove dias depois do desaparecimento dos três jovens e após protestos públicos de familiares pedindo justiça. Eles ficaram presos por cerca de 2 anos e meio.

Na época, o depoimento dos policiais apresentava contradições. Dentre os policiais, já responde à polícia por extorsão.

O corregedor do caso na época afirmou que os jovens não poderiam ter sido presos, pois na época era período de eleição e, conforme o código eleitoral, prevê que prisões só podem ocorrer em caso de flagrante ou sentença condenatória por crime inafiançável.

Leia mais: Caso Grande Vitória: ‘Testemunhas mentiram’, diz advogado de PM acusado
Edição: Hector Muniz
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