Problemas apontados em debate presidencial são ainda mais graves na Região Norte; Amazônia é pouco citada

Seis candidatos à Presidência participaram do debate (Divulgação/Tv Bandeirantes)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O primeiro debate entre candidatos à Presidência, ocorrido nesse domingo, 28, promovido pelo UOL, em parceria com a Band, Folha de S. Paulo e TV Cultura, foi marcado por pouca diversidade entre os jornalistas convidados a fazer perguntas e poucos questionamentos sobre a Amazônia.

Possuindo os índices mais altos de insegurança alimentar, desmatamento, invasão de Terras Indígenas e sendo rota para o narcotráfico, o tema teve pico de pesquisas, de acordo com o Google Trends, em junho, com os assassinatos de Dominic Phillips e Bruno da Cunha Araújo Pereira, no Vale do Javari, mas pouco foi abordado durante o debate.

Presidenciáveis participaram de debate na Band (Reprodução/TV Bandeirantes)

Com a presença de seis candidatos à Presidência, Felipe D’Ávila (Novo), Soraya Thronicke (União), Simone Tebet (MDB), Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT), o desmatamento na Amazônia só foi lembrado pelo ex-presidente Lula. Manaus foi citada por Ciro Gomes, que lembrou a crise de oxigênio de janeiro de 2021. Pará e Mato Grosso foram lembrados na pergunta da jornalista da Rádio Bandeirantes Thais Freitas, sobre rodovias para escoamento de safra. Não houve menções aos demais Estados da Amazônia Legal.

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Gráfico mostra busca pelo termo “Amazônia” no Google nos últimos 90 dias (Reprodução/Google Trends)

Entre os assuntos mais procurados quando se cita Amazônia, ainda aparecem pesquisas sobre Ratanabá, a “cidade perdida”, descoberta pelo criador do ‘ET Bilu’, Urandir Fernandes, utilizada como cortina de fumaça, para encobrir a violência na Amazônia, apontado por especialistas ouvidos pela CENARIUM.

Leia mais: Pesquisas por ‘Ratanabá’ no Google sobrepõem informações sobre crime contra indigenista e jornalista na Amazônia

Sobre a Amazônia

Meio ambiente

O ex-presidente Lula citou o desmatamento da Amazônia afirmando que o menor índice havia sido registrado durante seu governo. No entanto, a menor taxa de desmatamento da Amazônia foi registrada em 2012, durante o Governo de Dilma Rousseff (PT), quando foram degradados 4,6 mil km quadrados, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O candidato ainda lembrou do acordo feito pelo Brasil com a Noruega e Alemanha, chamado de “Fundo Amazônia“, que captava recursos dos países para proteção da floresta. Em 2019, o Brasil perdeu os investimentos após a Noruega e a Alemanha avaliarem que o país rompeu com o acordo de proteção ambiental e que não tinha mais condições de reduzir os impactos já causados.

Leia mais: Desmatamento aumentou mais de 60% na Terra Indígena Apyterewa, no Pará, a mais pressionada da Amazônia

Ciro Gomes, em resposta ao candidato Jair Bolsonaro sobre defesa da mulher, criticou a postura do atual presidente, pontuando os inúmeros ataques machistas contra mulheres, alegou que o presidente não tem coração e relembrou a crise de oxigênio em Manaus. “Porque você é uma pessoa que não tem coração, sabe simular sufocamento na hora que o povo brasileiro estava faltando oxigênio em Manaus, sabe?“, disse.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve aumento de 75% em desmatamento e 218% em incêndios florestais na Amazônia. Mas apesar disso, 97% dos alertas emitidos, em 2019, não foram fiscalizados.

Educação

A educação fez parte do debate entre os presidenciáveis. “O descuido com a educação brasileira parece ser um projeto de governo“, pontuou o candidato Ciro Gomes, relembrando o trabalho feito por ele de investimentos na educação, enquanto governador do Ceará.

O candidato Felipe D’Avila também citou educação, pontuando o baixo investimento e perguntou a Ciro qual seria a solução. “Neste Brasil em que nós gastamos 5,8% do PIB com educação há tantos anos, as crianças continuam não aprendendo, os professores continuam não ensinando. O que nós precisamos fazer para acabar com esse descalabro da educação?”, questionou.

De acordo com os dados do QEdu, os nove Estados da Amazônia Legal apresentam Indicador de qualidade da Educação Básica (Ideb) abaixo da média nacional de seis pontos. O número chega a ser ainda menor no Pará, Amapá e Maranhão, onde aparecem abaixo de cinco pontos.

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Apesar de atingirem a meta estipulada pelo Ministério da Educação para cada Estado, as deficiências educacionais na Região Norte são piores que no resto do Brasil, onde apesar de nenhum Estado atingir sete pontos, ainda mostram índices maiores, como na Região Sul, onde o Paraná e Santa Catarina apresentam os maiores índices do Brasil, com 6,4 e 6,3, respectivamente.

Outro agravante encontrados na Amazônia é o acesso à educação e estrutura das escolas, principalmente escolas rurais e indígenas. Como já mostramos na REVISTA CENARIUM, muitas delas não possuem materiais básicos, como carteiras, mesas, lousas e materiais escolares distribuídos pela rede pública.

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