Saiba quem foi Marcelo Zelic, pesquisador da violência contra indígenas na ditadura militar

Marcelo Zelic foi defensor dos povos indígenas. (Mauricio Garcia de Souza/Alesp)
Marcela Leiros* – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em 2013, um pesquisador redescobriu um registro com anos de relatos de extermínio de populações indígenas, casos de torturas e expulsões de território na época da ditadura militar, o que colocou um holofote sobre as violações aos povos originários cometidas no período. Marcelo Zelic, chamado de “militante da memória”, foi quem encontrou o “Relatório Figueiredo”, documento com mais de 7 mil páginas produzido, entre 1967 e 1968, pelo procurador Jader de Figueiredo Correia.

Zelic morreu na segunda-feira, 8, aos 59 anos, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O velório é realizado nesta quarta-feira, 10, pela manhã, no Cemitério Congonhas, no Jardim Marajoara, zona Sul da cidade de São Paulo.

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Marcelo Zelic no Congresso de 50 anos do Cimi, em novembro de 2022, em Luziânia (GO). (Maiara Dourado/Cimi)

O pesquisador se dedicou à defesa dos direitos dos povos indígenas e foi um dos responsáveis pelos estudos sobre violências contra os povos originários realizados pela Comissão Nacional da Verdade, além de ter sido vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória

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Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lamentou a morte do “militante da memória“, defensor dos direitos humanos e grande aliado da causa indígena, que foi “um lutador incansável contra a tirania, a tortura e a ditadura“.

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“Zelic assumiu como sua uma tarefa que deve ser de todos e todas nós, e que já foi enfrentada com mais afinco por alguns de nossos vizinhos latino-americanos: a revisão das violações praticadas contra a população em geral, e os povos indígenas em particular, durante os regimes militares e ditatoriais que vigoraram durante o século passado na América Latina e deixaram atrás de si um rastro de sangue – e, em especial no caso brasileiro, de impunidade”, pontuou o conselho.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) lembrou que em um de seus últimos trabalhos Zelic atuou no Território Indígena Yanomami, afirmando que a tragédia humanitária exige a abertura de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade para esclarecer os crimes cometidos entre os anos de 2019 e 2022.

Registro de indígena torturado (Foto: Reprodução)

No artigo intitulado “Justiça de Transição: remodelando práticas do Estado para o Bem Viver”, Zelic afirmou que “em memória dos indígenas, indigenistas e defensores de direitos humanos assassinados no Brasil entre 2019-2022, conclamamos, sem anistia! O Estado brasileiro tem o dever de reparar. Tem o dever de realizar a desintrusão em terras homologadas e cessar, sem demora, essa afronta constitucional ao usufruto indígena de suas terras. Demarcar é reparar”, completou.

Por meio da rede social Twitter, o Ministério dos Povos Indígenas pontuou que Marcelo Zelic iniciou diálogos importantes para a retomada de estudos e grupos de trabalhos que preservavam o processo e a importância de uma Comissão da Verdade Indígena. “Seu legado, trabalho e memória continuarão vivos entre todos nós e reforçamos que continuaremos trabalhando em suas ideias”, publicou a pasta.

Nota de pesar do Ministério dos Povos Indígenas a Marcelo Zelic. (Reprodução/ Instagram)

(*) Com informações da Agência Brasil

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