Via Brasília – Da Cenarium
”Psicopata e doente”
Há muito já se especula se os traços do comportamento inconstante e ambíguo do presidente Jair Bolsonaro poderiam indicar algum transtorno de ordem mental. Ontem, no Programa Roda Viva, da TV Cultura, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), voltou a levantar a hipótese, como já fizera em entrevista à CNN dos Estados Unidos. Ao comentar a decisão do Fórum de Governadores de propor uma reunião com Bolsonaro (sem partido), Doria disse que “a conversa com Bolsonaro não sairá do papel” e o classificou como “psicopata” e “doente”.
Provável adversário
À CNN, o governador de São Paulo já havia chamado o chefe do Executivo de “despreparado” e “psicopata” ao abordar a situação crítica da saúde no país diante da pandemia de Covid-19, quando afirmou que as mortes pela doença poderiam ter sido evitadas se o presidente tivesse agido de maneira responsável. Uma crítica destas, vindas de um provável adversário nas próximas eleições, podem até ser naturalizadas. O problema é quando o diagnóstico vem de autoridades no assunto, distantes da arena política.
Ególatra
Várias correntes de especialistas, de psiquiatras a psicanalistas, em fóruns sobre o tema, fecham diagnósticos muito semelhantes. Um deles é o psiquiatra forense Guido Palomba, membro emérito e ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo, que afirmou que Bolsonaro possui traços de psicopatia ou condutopatia. Segundo ele, o comportamento do mandatário apresenta elementos suficientes para validar essa hipótese. “São ególatras, sempre pensando em si mesmos, e não têm remorso nunca”, disse Palomba, também em entrevista à TV Cultura.
Diagnóstico profissional
O psiquiatra escreveu artigo no Jornal Folha de São Paulo em que aprofunda suas investigações sobre as semelhanças entre a personalidade de Bolsonaro e a de um psicopata. Ele diz que “se acham os grandes poderosos, e aí vem a tirania, porque só eles que estão certos”. Para o especialista, essas pessoas não deveriam ter poder de mando, mas quando têm é sempre uma lástima, completou. Intitulado “Jair Messias e o ‘pai dos psicopatas'”, a artigo de Palomba sustenta essa opinião citando como referência o livro “Personalidades Psicopáticas” do psiquiatra alemão, Kurt Schneider, um manual clássico da psiquiatria.
Exames
Quem não se recorda dos diversos momentos em que, frente ao sofrimento alheio e à morte de milhares de pessoas, Bolsonaro saiu com pérolas como “eu não sou coveiro”, “chega de frescura” e “vai ficar chorando até quando?” sem qualquer sentimento de afetividade com a dor alheia… Na época, um grupo de advogados e professores chegou a pedir ao STF que o presidente Bolsonaro fosse submetido a exames para avaliar se ele teria condições mentais de exercer as funções de presidente. Não se tem notícia de que fim levou a solicitação.
Crises incessantes
Nos mais recentes movimentos radicalizados contra as instituições e a democracia, a professora Miriam Debieux Rosa, da USP e da Rede Interamericana de Psicanálise e Política, avalia que Bolsonaro tenta agora transpor para a gestão política a sua “lógica de guerra”, com respostas violentas a problemas, o mesmo que defendia enquanto deputado. O resultado disso são crises incessantes. “É uma cultura que não admite desaforo. O que o outro diz e que é contra o que eu estava pensando já é considerado uma ameaça”.
Compartilhe:
Comentários