‘Um espaço de acolhimento’, diz empreendedor sobre Studio LGBTQIA+friendly em Manaus

O local é um dos primeiros Studios de beleza LGBT+friendly da cidade (Reprodução)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Focando em um espaço inclusivo e na promoção do respeito à diversidade, o empreendedor Matheus Santiago, de 24 anos, resolveu investir em um dos primeiros Studios de beleza LGBT+friendly, localizado na Avenida Getúlio Vagas, Centro de Manaus. O espaço, que tem como um dos princípios o acolhimento a clientes LGBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais, sendo que o símbolo “+” acolhe as demais orientações sexuais) e vêm ganhando notoriedade na cidade.

Há dois anos no mercado, Matheus conta que a ideia surgiu após sofrer um episódio de homofobia em um estabelecimento comercial. “Passei por constrangimento ao ir numa barbearia convencional e me senti como um motivo de incômodo para os demais clientes, por estar de mãos dadas com meu namorado. Desde aí, fiquei 2 anos sem cortar meu cabelo com receio de passar pela mesma situação novamente e decidi fazer meu próprio espaço de acolhimento”, relata.

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De acordo com Matheus, ao longo dos meses, houve uma certa resistência do público em relação à proposta estabelecida para o local. “Recebemos muitas críticas, em comentários de posts, por falarem que estamos discriminando e tendo preconceito com pessoas ‘heterossexuais’. Mas a questão aqui na Saint Studio não é segregar ninguém, mas sim, incluir àqueles que não têm espaço“, conta Matheus.

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Matheus Vinicius Santiago, especialista em cabelos cacheados, crespos, ondulados e CEO da Matheus Saint Studio, espaço LGBTQIA+friendly (Reprodução/Instagram)

‘Liberdade’

Para o jovem CEO, ter o próprio negócio vai além de uma conquista, significa ter liberdade de ser quem se é, principalmente, em espaços de trabalho que também costumam ser cenários para episódios de preconceito.

Saber que, hoje, posso atuar dentro de um ambiente com essa proposta do respeito e acolhimento significa liberdade! Já trabalhei em empresas em que sempre me podavam em relação ao ‘comportamento’ para não ‘assustar’ clientes. Outros funcionários aqui do salão, inclusive, também relatam que não podiam utilizar vestimentas e nem maquiagens porque as empresas convencionais cometiam homofobia velada, além de assédio em ambiente de trabalho“, desabafa.

O studio é dos dos primeiros espaços de beleza LGBT+ de Manaus

Equipe

Atualmente, o estabelecimento tem como especialidade cabelos naturais, cacheados, tratamentos sem químicas e conta com a atuação de nove colaboradores, e todos são LGBTQIAP+.

Conforme Matheus, o salão, que vem ganhando espaço no mercado manauara, soma, em média, 100 atendimentos semanais e, em períodos de alta, como festas de fim de ano, o número chega a dobrar.

Questionado se houve algum episódio recente de preconceito pelo local ser declaradamente LGBT+, Matheus responde; “Graças a Deus, os clientes já vão bem esclarecidos que o Studio é LGBTQIA+friendly, então, eles saem agraciados com a inclusão”, celebra.

O espaço também usa a terapia holística no atendimento aos clientes (Reprodução/Instagram)

Representatividade

A iniciativa de Matheus é semelhante ao da empreendedora manauara Zulma Diniz. Em agosto de 2021, Zuma repercutiu, na internet, ao postar na rede social de sua floricultura falando da importância do acolhimento e a oportunidade do mercado de trabalho para pessoas LGBTQIAP+.

À época, sem esperar repercussão, a empreendedora compartilhou a vontade de ser referência ao ter uma empresa que só trabalha com pessoas da comunidade LGBTQIAP+. “Tenho cinco colaboradores que trabalham com muito amor e dedicação, não tem tempo ruim para eles. São pessoas amáveis, trabalhamos e nos divertimos ao mesmo tempo”, contou Zulma em entrevista exclusiva para REVISTA CENARIUM.

Na conversa com a CENARIUM, a empresária falou sobre a sensibilidade em entender a importância do acolhimento e a oportunidade para a comunidade no mercado de trabalho, e de como se sentia ao testemunhar a “árdua missão” dos amigos ao enfrentar o preconceito para conseguir um trabalho digno para garantir o sustento. “Comecei a ter muitos amigos e ver tudo que eles passavam. É muito preconceito, injustiça e me dói demais ver pessoas praticando homofobia”, relatou Zulma à época.

Dados do mercado

Segundo o estudo “DE&I pós 2020: progresso real ou ilusão?”, feito pela consultoria de recursos humanos Korn Ferry e publicado em abril do ano passado, 85% das empresas brasileiras empenharam investimentos de forma acelerada quando o assunto é diversidade, equidade e inclusão no mercado de trabalho. O levantamento foi realizado com 250 companhias entre os anos de 2020 e 2021.

Embora o número seja elevado, o estudo mostra que, até então, apenas 14% das organizações avaliam que seus esforços sobre a temática estão sendo mais efetivos. Entre abril de 2021, ao mesmo período de 2022, a pesquisa também apontou que 46% das empresas se empenharam sobre a temática de forma progressiva.

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