Coproduzido por indígenas de RO, filme sobre defesa de territórios ganha 1ª exibição no Brasil; ‘Cinema lotado e com fila de espera’

A exibição de 'O Território', no Brasil, é seguida de notáveis premiações no Festival Sundance de Cinema e no Festival Internacional de Documentários de Copenhagen (Reprodução/O Território)

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Foi durante a sessão de encerramento do Festival É Tudo Verdade, que a luta do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia, pela defesa de seus territórios contra posseiros, desmatadores e agricultores, ganhou os telões de São Paulo e Rio de Janeiro, no último domingo, 10. A primeira exibição de ‘O Território’, no Brasil, que ocorreu simultaneamente nas duas capitais, é seguida de notáveis premiações no Festival Sundance de Cinema e no Festival Internacional de Documentários de Copenhagen. 

Em entrevista à CENARIUM, a indigenista, ativista e uma das produtoras do documentário, Neidinha Suruí – como prefere ser chamada -, diz que “acompanhar a exibição do documentário, em São Paulo, foi muito emocionante”. “O cinema estava lotado e com lista de espera (…) Nós estávamos com um grupo grande de Uru-Eu-Wau-Wau que se viram no telão, então, foi pura emoção”, disse a defensora dos direitos de povos originários.

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Leia também: Documentário que retrata a luta dos Uru-Eu-Wau-Wau ‘leva’ dois prêmios em festival internacional de cinema

A ativista, indigenista e presidente da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé acredita que os espectadores “sentiram a necessidade e a urgência de defender os direitos e a demarcação dos territórios indígenas” (Alex Pritz/Reprodução)

‘O Território’

Dirigido por Alex Pritz e produzido pelos cineastas Darren Aronofsky e Sigrid Dyekjaer, além dos produtores e cineastas da etnia retratada no enredo, como o jovem e líder indígena Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau, ‘O Território’ mostra, por meio de um olhar imersivo, como os integrantes deste grupo originário viram sua população diminuir e a ameaça sobre a própria cultura avançar desde o contato com o homem não indígena.

A trama de quase uma hora e meia, entrelaçada nas histórias reais, vividas pelos integrantes das aldeias, retrata também a invasão e a exploração ilegal da Terra Indígena (TI) que atravessa 12 dos 52 municípios rondonienses, região que sofre com a mineração e a extração ilegal de madeira. Na mesma medida, o longa-metragem não deixa passar despercebida a grilagem de terras estimulada por políticos, incluindo o presidente da República Jair Bolsonaro (PL), além do avanço do desmatamento e dos assassinatos de ativistas. Uma exposição da verdade filmada num longo processo de três anos. 

“Eu acredito que os espectadores sentiram a necessidade e a urgência de defender os direitos e a demarcação dos territórios indígenas. Muitas pessoas estavam com os olhos cheios de lágrimas, muito emocionadas e manifestando o apoio”, contou Neidinha Suruí à reportagem.

Primeira exibição de ‘O Território’ lotou salas de cinema em São Paulo e Rio de Janeiro (Neidinha Suruí/Arquivo Pessoal)

Agradecimento e protesto

A sala de cinema também foi lugar para agradecer e protestar contra as insanidades alimentadas por tempos sombrios de intolerância, preconceito e negacionismo.

“Quero agradecer ao Festival É tudo Verdade e a todos vocês que estão aqui para assistir ao filme e, principalmente, agradecer e reconhecer os povos originários dessa região, dessa terra que, agora, se chama São Paulo, mas, como sabemos, era terra dos povos Guarani Mbya e Tupi Guarani”, disse o diretor do filme, Alex Pritz, durante a cerimônia.

O diretor de ‘O Território’, Alex Pritz (Reprodução/Divulgação)

Já Neidinha Suruí tirou a blusa que vestia por cima da camiseta, revelando a frase “Fora Bolsonaro”, feito que arrancou gritos e aplausos da plateia. “O que vocês vão ver no filme está acontecendo, agora, neste momento. Sete dias atrás, nós tivemos mais um assassinato de um Uru-Eu-Wau-Wau e os assassinatos se sucedem no Brasil inteiro contra os Povos Indígenas; as invasões e os retrocessos nos direitos”, disse a ativista e coprodutora.

“A gente conta muito, mas muito, com cada um de vocês que estiveram aqui para que os crimes acabem. Para que parem de matar ativistas, para que parem de matar guardiões da floresta. A gente não aguenta mais isso, a gente não suporta mais isso (…) Nós estamos lutando aqui por um Brasil melhor para todos: indígenas, não indígenas, negros, LGBTQIA+, ricos, pobres (…) abaixo o racismo, abaixo a discriminação, abaixo o preconceito”, bradou Neidinha.

Protagonismo

Para a ativista, o filme traz um grande recado ao Brasil: o protagonismo indígena e a importância de que os povos tradicionais alcancem, ainda mais, lugares de destaque para quebrar estigmas tão ultrapassados, além de contribuir para a história da cultura e do audiovisual brasileiros. 

“O filme foi premiado em Sundance e também em Copenhagen. Então, essas premiações representam, para os povos indígenas, o reconhecimento da luta, a certeza de que outros saberão o que está acontecendo e a certeza de que nós temos cineastas indígenas. Isso é o fortalecimento dos povos indígenas, também, na produção cultural e na produção de cinema. É a certeza de que eles estão mostrando o seu olhar e fazendo sua própria história”, afirmou.

A trama entrelaçada nas histórias reais, vividas pelos integrantes das aldeias, retrata também a invasão e a exploração ilegal da Terra Indígena que atravessa 12 dos 52 municípios rondonienses (Reprodução/O Território)

“Esse tipo de produção audiovisual é superimportante para o Brasil, no momento em que a cultura é pouco valorizada pelo atual governo, onde o recurso da cultura vem sendo tirado. É superimportante ter esse tipo de produção, uma produção premiada, fortalecendo a cultura e a luta pelo apoio cultural”, finalizou Neidinha Suruí. 

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