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Garimpeiros da Amazônia esquecem degradação ambiental e dizem que cobiça pelo ouro é saída para o sustento
Maioria dos garimpeiros vive com suas famílias na própria embarcação onde funcionam as dragas. (Foto: Ricardo Oliveira/Cenarium)
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29 de novembro de 2021
Náferson Cruz – Para a Revista Cenarium
AUTAZES (AM) – Vindos das mais variadas atividades econômicas, muitos do roçado e desempregados, garimpeiros da Amazônia carregam consigo as cicatrizes de uma labuta bucólica e desumana do homem com a natureza. Após quatro décadas do fechamento dos garimpos, a CENARIUM foi buscar, na memória desses garimpeiros, suas histórias de vida, seus “bamburros” (quando encontram grande quantidade de ouro), esperanças e desilusões, suas formas de organizações alternativas nas ausências do Estado e suas estratégias de luta e de sobrevivência.
Muitos já estão velhos e outros jovens, mas trazem a memória de suas experiências, como o ex-comerciante, Sadir da Costa Oliveira, de 38 anos, natural de Manicoré, que passa meses longe do aconchego do lar. O ex-comerciante conta que iniciou sua jornada como garimpeiro aos 26 anos, mas, antes, atuava vendendo produtos industrializados pelos beiradões da Amazônia.
Mesmo que o meio ambiente seja altamente impactado com o trabalho dos garimpeiros, muitos citam que esta é a única forma de sustento na região. “Vi no garimpo uma forma de garantir a renda para minha família. Naquela época, as coisas estavam difíceis e, durante todo esse tempo que estou nessa atividade, melhorou bastante”, lembrou o garimpeiro, enquanto manuseava uma espécie de cuia de aço para mostrar os resquícios de ouro, após a intensa jornada de trabalho. O relógio em seu pulso não podia passar despercebido, indagado sobre o pertence, Sadir fez questão de dizer que o acessório era de ouro: “Aqui tem 22 gramas de ouro que extraí durante 20 horas de trabalho”, ressaltou. Joias como anéis e relógios de ouro são itens comumente encontrados entre os garimpeiros.
Antes de encerrar a conversa, Sadir disse que temia pela ação da polícia: “Se eles tocarem fogo na balsa não sei o que farei da vida, investimos muito aqui e nós queremos apenas trabalhar”, completou. A balsa onde Sadir operava e outras dez estavam estacionadas às margens do Rio Madeira, na comunidade de Axinim, no município de Borba. Uma delas era de Gideão Bentes Sales, de 36 anos. O ex-produtor rural lamenta pela forma pejorativa como são tratados os garimpeiros. Faixas com a frase: “Queremos apenas trabalhar” foram postas nas balsas, como forma de protesto.
“Falar que poluímos o rio com mercúrio é um pensamento ultrapassado, já não jogamos mercúrio no rio, agora filtramos e o colocamos em um recipiente, reaproveitamos porque é um produto caro. Agora, não vejo as autoridades fiscalizando os condomínios que fazem dos igarapés seus esgotos e, muito menos, fiscalizando os municípios que nunca resolvem o problema do lixão”, falou indignado.
Durante a conversa com a equipe de reportagem no interior de uma balsa, Gideão Sales recebia a notícia que duas balsas foram incendiadas próximo ao município de Nova Olinda do Norte, a duas horas de voadeira no motor 20hp, distante de onde estava. A tensão tomou conta de todos que ali estavam. Informações preliminares davam conta de que o ato era parte de uma operação da polícia para conter a invasão de 600 balsas de garimpo no trecho do Rio Madeira, próximo à comunidade do Rosarinho, em Autazes (a 120 quilômetros de Manaus).
“É muito triste essa situação, se a fiscalização aparecer aqui não sei o vou fazer. Eles podem fazer isso. Agora, vamos ter que ficar aqui até a noite para tomarmos uma decisão de grupo, se iremos subir rio acima ou permanecer”, finalizou a entrevista, às 15h do dia 27 de novembro de 2021.
Rio Madeira, sinônimo de esperança
O Vale do Madeira, região da Amazônia que abrange os municípios de Borba, Nova Olinda do Norte e Autazes, este último com cerca de 40 mil habitantes, a 120 quilômetros de Manaus, capital do Amazonas, tornou-se sinônimo de esperança para centenas de pessoas.
No início de novembro de 2021, de acordo com sites de notícias da região, duas balsas de garimpo começaram a dragar areia e cascalho do leito do Rio Madeira à procura de ouro. Depois de algumas horas, arquivos de áudio afirmando que havia ouro no local começaram a circular entre grupos virtuais dos garimpeiros. Em menos de uma semana, cerca de 600 balsas de garimpo invadiram a região para iniciar a corrida pelo ouro.
Parte dos garimpeiros investiu tudo que tinha, na esperança do retorno financeiro. Um deles, Edilon Ferreira Silva, de 38 anos, distinto dos demais, preferiu deixar a mulher e o casal de filhos em Manicoré, onde reside. Ele conta que está há dois meses longe de casa. Nascido na comunidade de Uruapinha, no município de Humaitá, Edilon se revezava com o cunhado na operação da balsa. “Até o momento, já conseguimos 25 gramas de ouro”, disse o garimpeiro.
Entretanto, 24 horas depois de ter conversado com a reportagem, uma ação com agentes da Polícia Federal (PF), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marinha e Aeronáutica, denominada Operação Uiara, obrigou que parte das balsas suspendesse suas operações. Outra pequena parte foi apreendida e, ao menos, 31 balsas e 69 dragas, equipamentos usados para sugar o leito do rio, foram destruídas na ação.
As ações federais de repressão ao garimpo ilegal ao longo do Rio Madeira, no Estado do Amazonas, avançaram no segundo dia, com a destruição de todas as balsas e dragas encontradas em pontos distintos ao longo do rio pelos agentes da operação. Uiara, nome dado à ação dos agentes federais, foi batizada com a palavra que tem origem na língua tupi e que significa “Mãe da Água”.
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