Justiça revê licença e condena Potássio do Brasil a pagar R$ 7 milhões a indígenas de Autazes

Vista área do município de Autazes, distante 111 quilômetros de Manaus (Foto: Divulgação)
Daleth Oliveira – Da Revista Cenarium Amazônia

BELÉM (PA) – A Justiça Federal do Amazonas determinou, novamente, a suspensão do licenciamento para exploração de potássio em Autazes (distante 111 quilômetros de Manaus), que havia sido concedido pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). A decisão, proferida pela juíza Jaiza Fraxe nesta quinta-feira, 16, também inclui uma multa de R$ 7 milhões à empresa Potássio do Brasil, sendo R$ 1 milhão por aldeia indígena intimidada pela mineradora.

A decisão acata o pedido de urgência apresentado pelo Ministério Público Federal (MPF), pela Organização de Lideranças Indígenas Mura de Careiro da Várzea e pela comunidade indígena do Lago do Soares em Autazes. Nela, a magistrada ressalta a importância do protocolo de consulta do povo Mura, que é o principal afetado pelo empreendimento, etapa que ainda não aconteceu.

Especialmente, o Povo Mura da Comunidade Lago Soares, onde foi fincada a primeira perfuração para fins de pedido de concessão de lavra e licenças prévias, de instalação e de operação, o povo não foi ouvido em nenhuma das etapas da consulta. Em inspeção judicial realizada por esta magistrada, confirmei a tese dos autos de que é exatamente no Lago Soares que parte a pretensão de instalação do Projeto Potássio, e essa comunidade não foi ouvida até a presente data, sendo ilegítima qualquer conclusão sem sua participação“, diz a decisão.

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Consulta anulada

Além da suspensão do processo de licenciamento ambiental iniciado pelo Ipaam, a juíza anulou a consulta, considerada irregular, realizada por um grupo de indígenas favoráveis ao empreendimento. Ela considera que a reunião entre a empresa e os indígenas foi realizada às escuras, propositalmente sem a presença de organizações e de demais lideranças indígenas Mura contrárias ao referido projeto.

“São mais de 12 mil indígenas Mura afetados com o empreendimento, dos quais nem 1% chegou a participar da reunião onde correu uma lista de presença, depois transfigurada em lista de aprovação, havendo clara pressão de cerca de dez indivíduos – alguns já identificados e ouvidos no Ministério Público Federal, no sentido de distorcer a realidade e retirar o direito de participação da imensa maioria dos indígenas nesse complexo processo de Consulta Livre e Informada”, destaca a juíza na decisão.

A reunião em questão, foi divulgada em uma ata entregue pelo presidente do Conselho Indígena Mura (CIM), José Cláudio Mura e ao governador do Amazonas, Wilson Lima, onde se afirma que as lideranças indígenas são favoráveis ao projeto Potássio Autazes. Na época, tal apoio foi comemorado pelo Governo do Amazonas.

Ata entregue ao Governo do Amazonas (Reprodução)
R$ 7 milhões

A Justiça também considerou a denúncia do MPF de que haveria indígena Mura recebendo R$ 5 mil da empresa Potássio do Brasil, enquanto outros estariam recebendo R$ 10 mil, com o intuito de coagir e manipular as comunidades afetadas com a finalidade de aprovar o empreendimento, “gerando uma confusão entre Consentimento Livre e Informado e licenciamento prévio, de licença de instalação e licença de operação, que a essa altura, estão fazendo parecer como um só fato jurídico, quando são atos distintos“, distingue a juíza.

Diante dos fatos, a juíza multou a empresa em R$ 1 milhão por coação, manipulação e intimidação aos indígenas. O valor deverá ser pago a cada aldeia cujos representantes denunciaram ao MPF: Aldeia Moyray, localizada na Terra Indígena Guapenu; Aldeia do Lago do Soares; Aldeia Ponta das Pedras; Aldeia Paracuhuba/Paracuúba; Aldeia Natal/Terra Felidade; Aldeia Murutinga Tracajá; Aldeia Terra Preta/Murutinga.

A empresa também deverá pagar R$ 1 milhão à Organização de Lideranças Indígenas Mura de Careiro da Várzea e à comunidade do Lago do Soares pelo descumprimento dos deveres assumidos durante as audiências de conciliação perante o juízo, em especial, por realizar pressão indevida sobre o povo Mura, com o comparecimento pessoal do seu presidente em reuniões internas das comunidades sobre o assunto tratado nos autos, o que já foi vedado pelo juízo.

Por último, a juíza determinou também a retirada imediata do indevido marco afixado no território indígena da Comunidade Soares, fixando a multa de R$ 500 mil à empresa Potássio do Brasil S/A “por dia de descumprimento e violações ao território Soares e a todo povo Mura da Comunidade Soares, a contar da intimação da presente decisão“.

Problemas no licenciamento

Esta não é a primeira vez que a Potássio do Brasil tem o licenciamento suspenso. Em setembro, a Justiça Federal da 1ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Amazonas (SJAM) determinou a suspensão da licença concedida pelo Ipaam. Na época, a licença foi considerada ilegal e inconstitucional.

Empresa Potássio do Brasil (Reprodução/Secom)

No último mês, a Justiça repassou a competência do licenciamento ambiental do âmbito federal para estadual, validando a licença emitida em 2015 pelo Ipaam – agora derrubada. Na ocasião, o órgão afirmou que a liberação das atividades da empresa Potássio do Brasil não é imediata, “afinal, o empreendimento, com investimentos de US$ 2,5 bilhões, ainda não possui licenças de instalação e operação”.

Leia a decisão na íntegra:

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Leia mais: Ipaam diz que decisão judicial não garante liberação imediata de exploração de potássio no AM
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
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