Filme de ficção científica ‘A Terra Negra dos Kawa’ estreia em circuito nacional

Obra cinematográfica do diretor Sérgio Andrade entra em cartaz no circuito nacional apresentando a temática indígena (Reprodução/REVISTA CENARIUM)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – A produção cinematográfica amazonense “A Terra Negra dos Kawa” (Manaus, 2017) entra em circuito nacional no próximo dia 20 de abril. O longa produzido em 2017 passou por festivais como a Mostra de São Paulo e o Festival do Rio e, agora, circula nacionalmente. A iniciativa acontece em homenagem ao Dia dos Povos Originários, já que o filme é uma ficção com temática indígena e com a participação de atores e atrizes pertencentes a povos originários da Amazônia.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o diretor Sérgio Andrade comentou a longevidade do filme no contexto da cena brasileira. “Acho que são duas coisas: uma foi que o filme sempre foi muito comentado, quando esteve em festivais, causando a solicitação de crítica e do público em geral para que passasse nos cinemas, e o outro motivo foi a pandemia mesmo, houve um adiamento junto à Ancine”, comentou.

Em meio ao choque de culturas, ‘A Terra Negra dos Kawa’ transita entre os mundos das múltiplas Amazônias urbanas e aldeadas (Reprodução/Divulgação)

Com estética na ficção e um “pé” no documentário, o diretor comentou a aparente ambiguidade da obra: “Sempre amei a ficção científica e o terror, são gêneros que adoro. A ancestralidade indígena, suas histórias e imaginário são ricos em temas ligados a narrativas extraordinárias. E tem até este elemento documental que é a terra preta de índio, um legado dos povos indígenas para o aprimoramento da agricultura e da força telúrica da natureza. É lindo como povos indígenas ancestrais da calha do Rio Solimões contribuíram para o poder da própria natureza” destacou.

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Clichê

Questionado sobre o momento em que parte do cinema nacional se debruça sobre temas amazônicos, urbanos ou florestanos, e que isso pode exaurir ou mesmo tornar clichê temas tão importantes, Sérgio analisou: “Concordo com um possível desgaste, mas eu não diria clichê, mas sim, uma visão estereotipada ou míope da Amazônia e da questão indígena. Desde 2010, faço curtas e longas onde a preponderância do indígena está presente. Eu, apesar de ser branco, gostaria sempre de trabalhar com eles!”, segredou.

Cena que espelha o humano e a natureza de um universo amazônico retratado nas lentes cinematográficas do diretor Sérgio Andrade (Reprodução/Divulgação)

Com uma produção pautada por obras de qualidade, Sérgio Andrade faz planos sobre os próximos passos na carreira: “De mim, podem esperar bastante projetos. Amo a Amazônia, amo cinema, amo escrever e desenhar cenas. O que impede de fazer um filme todo ano, nós sabemos: é a falta de recurso, de dinheiro”, lamentou. Sobre o futuro de “A Terra Negra dos Kawa”, ele falou: “Prêmios são sempre bem-vindos e acho que ‘A Terra Negra…’ tem potencial perene para isso. É um filme que pode ir para a TV, para o stream, etc…”, avaliou.

Elenco

No elenco de “A Terra Negra dos Kawa” estão Mariana Lima, Felipe Rocha, Marat Descartes, e os Kawa, vividos por atores indígenas da mesma família, são eles: Severiano Kedassare, Emerlinda Yepario, e os filhos, Kay Sara e Anderson Kary-Bayá, da etnia dos Tariano. O filme também apresenta atores indígenas das etnias Sateré-Mawé, Tikuna e Tukano. A produção é assinada pela Rio Tarumã Filmes e a distribuição é da Livres Filmes.

A ficção ‘A Terra Negra dos Kawa’ aborda temas delicados como demarcações de terras, ancestralidade, agricultura, ciência e capitalismo (Reprodução/Divulgação)

Sinopse

No filme, um grupo de cientistas faz escavações em terrenos, no interior do Amazonas, em busca de uma terra preta fértil, usada para fins agrícolas. Conforme se aproximam do sítio dos indígenas Kawa, notam que a terra adquire poderes energéticos e sensoriais.

“Um dos grandes mistérios na Amazônia é a força antrópica das antigas comunidades indígenas, que modificou o convívio social e os recursos naturais de seu espaço. Foi o que aconteceu com a chamada ‘terra preta de índio’, preparada e cultivada, ao longo dos anos, de uma maneira especial, tornando-a fértil demais para os padrões agrícolas atuais, uma prova da inteligência dos povos ancestrais que viviam na Amazônia”, explicou o diretor.

A participação de atores e atrizes de origem indígena valoriza ‘A Terra Negra…’ como obra cinematográfica de pertencimento e expressão amazônica (Reprodução/Divulgação)

As filmagens de “A Terra Negra dos Kawa” aconteceram em locações da cidade de Manaus e nos arredores do município de Iranduba, no Amazonas (distante 39 quilômetros de Manaus), onde foi alugado um sítio que se tornou o “Sítio dos Kawa”. “Em Iranduba, até a região do município de Manacapuru, ambos localizados na calha do Rio Solimões, encontramos extensas áreas de terra preta legítima, resquícios de povos originários ancestrais que habitavam ali”, revelou Andrade.

Locações na pista do aeroporto internacional Eduardo Gomes, de Manaus, possibilitaram a inclusão de imagens de aviões abandonados, que adicionaram um componente ao clima do filme. “A ficção científica me encanta, mas, apesar de lidar com proposições científicas, a narrativa foca no conflito central: a questão da terra e da valorização sociocultural do indígena”, finalizou Sérgio Andrade.

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