‘Machista e misógina’, dizem jornalistas e entidades sobre declaração de Bolsonaro contra Vera Magalhães em debate

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e a jornalista Vera Magalhães. (Arte: Thiago Alencar/ Revista Cenarium)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA – O primeiro debate dos candidatos à Presidência da República nesse domingo, 28, na TV Band, rendeu cenas de desrespeito às mulheres e jornalistas. O mais emblemático foi o momento em que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), sem ao menos ser questionado, disse achar que a jornalista Vera Magalhães tem uma “paixão” por ele e que ela é uma “vergonha para o jornalismo brasileiro”. Jornalistas e entidades que representam a categoria afirmaram que a atitude foi “misógina e machista”.

Vera havia perguntado ao candidato Ciro Gomes (PDT) sobre a queda na cobertura vacinal nos últimos anos, e questionou a influência da desinformação difundida pelo governo federal nos números. Bolsonaro deveria apenas comentar a pergunta.

“Vera, não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas ao meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, disse Bolsonaro.

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Participaram do debate os candidatos, da esquerda à direita, Felipe d’Ávila (Novo), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB), Jair Bolsonaro (PL), Soraya Thronicke (União Brasil) e Ciro Gomes (PDT). (Reprodução/ TV Band)

Após o ataque, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lembrou que Bolsonaro é reincidente no ataque a mulheres e exigiu que o presidente respeite profissionais de imprensa. “Essa atitude reitera uma prática machista e misógina adotada por ele e que vem sendo monitorada pela Abraji em levantamento com recorte de gênero. A Abraji se solidariza com a jornalista e exige que o presidente respeite as profissionais que trabalham na imprensa”, afirmou a entidade.

Jornalistas também saíram em defesa da colega. Miriam Leitão se manifestou ao analisar o debate. Ela, que já foi atacada por um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, disse que a cena foi de “misoginia”. Em abril deste ano, o “03”, como é conhecido por ser o terceiro filho do presidente, debochou da tortura sofrida por Miriam na Ditadura Militar.

“Bolsonaro perdeu o debate. Não manteve suas mentiras, e ainda atacou uma jornalista e as candidatas, em cena de misoginia. Lula não mostrou o mesmo desempenho do JN. Ciro perdeu chances. Ávila foi muito fraco. Soraya foi bem. Simone foi a melhor no debate”, afirmou.

A repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello disse sentir orgulho de Vera Magalhães. Patrícia entrou com uma ação contra Bolsonaro por ofensa e insinuação sexual, em 2020, depois que o presidente insinuar que ela estava trocando sexo por furos de reportagem. Ele foi condenado a indenizá-la em R$ 35 mil.

Candidatas reagem

A declaração de Bolsonaro foi repudiada ao longo do próprio encontro por outras candidatas, como Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). “Sou muito tranquila, vim na paz, bandeira branca. Só que, quando eu vejo o que aconteceu agora com a jornalista Vera, fico extremamente chateada. Quando homens são “tchutchucas” com outros homens, mas vem pra cima da gente sendo tigrão, fico extremamente incomodada. Lá no meu Estado tem mulher que vira onça e eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento, e acima de tudo disseminar ódio e nos dividir”, disse Soraya.

Simone Tebet também criticou Bolsonaro pela declaração. “Temos que dar exemplo, exemplo que lamentavelmente o presidente não dá quando desrespeita as mulheres, quando fala das jornalistas, quando agride, ataca e conta mentiras, como acabou de fazer. Quero dizer que não tenho medo”, acrescentou.

Vera se manifesta

Ao fim do debate presidencial, Vera Magalhães disse que o ataque do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra ela prejudicou o próprio candidato à reeleição. Ela também afirmou que Bolsonaro “não gosta de ser questionado por mulheres”.

“Ele teve uma atitude absolutamente descontrolada, desnecessária e, ao meu ver, prejudicial a ele mesmo”, falou em entrevista.

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