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Um ano após queda de pontes, viagem pela BR-319 ficou duas horas mais longa
Trecho em obras em ponte da BR-319 (Reprodução/Internet)
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28 de setembro de 2023
Yana Lima – Da Revista Cenarium Amazônia
MANAUS (AM) – Pouco mais de 800 quilômetros separam Manaus, capital do Amazonas, de Porto Velho em Rondônia, pela BR-319, única rodovia que liga Amazonas e Roraima a Rondônia, e, consequentemente, ao restante do Brasil. A situação da rodovia, que já era crítica, ficou pior com queda das pontes sobre os rios Curuçá e Autaz-Mirim, no município do Careiro da Várzea (a 88 quilômetros de Manaus).
Quem utiliza frequentemente a estrada conta que a viagem entre as duas capitais aumentou em, aproximadamente, duas horas após os ocorridos. A queda da ponte sobre o rio Curuçá, no quilômetro 23 da rodovia, completa um ano nesta quinta-feira, 28. Cinco pessoas morreram. Dez dias depois, caiu a segunda ponte, dessa vez sobre o rio Autaz-Mirim, no quilômetro 25.
Sem previsão para a conclusão das novas pontes, a travessia nestes trechos agora é feita por balsas. Devido à seca dos rios, estas embarcações estão atracadas e funcionam como uma espécie de ponte. Se na estiagem, a viagem Manaus-Porto Velho leva em torno de 16 horas, no período chuvoso são quase 24 horas de percurso, segundo relato de motoristas que utilizam a rodovia com frequência. De caminhão, o trajeto pode levar mais de um dia, a depender das condições climáticas.
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O presidente da Associação dos Amigos e Defensores da BR-319, André Marsílio, relata que além de atrasar o transporte de mercadorias e pessoas, as condições da rodovia aumenta m os custos logísticos e comprometem a economia local e regional.
“Ficou bastante complicado, pois o tempo de viagem agora é maior e a questão do transporte logístico, tanto de material de consumo quanto dos produtores, tornou-se ainda mais desafiadora. Já era complicado levar uma hora de balsa do Ceasa e, agora, a situação piorou consideravelmente com os atrasos ocorridos no Rio Curuçá e no Autaz Mirim”, protestou.
Sem respostas
Um ano após a queda da primeira das duas pontes que caíram na rodovia, não existem prazos precisos sobre quando a reconstrução será finalizada, nem a conclusão das investigações sobre as causas do ocorrido. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (Dnit) informou que os projetos e obras da ponte Autaz Mirim já estão contratados e a empresa já está mobilizada com canteiro de obras no local.
Em nota, a autarquia informou que as equipes ainda trabalham na remoção dos escombros da antiga ponte. A construção da nova ponte ainda está na fase inicial, na etapa de fundação. Sobre as causas dos colapsos nas pontes, o órgão informou que aguarda a conclusão das investigações da Polícia Civil e da emissão do laudo técnico do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) para determinar o que provocou o colapso na ponte. A equipe entrou em contato com ambas as instituições e aguarda retorno.
Uma reportagem da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, publicada em novembro de 2022, afirmou que um estudo de 2021 já apontava que esta era uma “tragédia anunciada”.
De um lado, defensores das obras dizem que a pavimentação irá garantir o desenvolvimento do Estado e aumentar a proteção da floresta. De outro, ambientalistas temem que a rodovia amplie o desmatamento e o alcance da devastação da floresta próxima à rodovia.
Durante votação que aprovou o Projeto de Lei do Marco Temporal (PL 2.903/2023), nesta quarta-feira, 27, o senador pelo Amazonas Omar Aziz (PSD) atribuiu o atraso nas obras à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Ele a acusou de praticar o que chamou de “política de extermínio” e “manutenção da floresta em pé”. A fala reproduz uma narrativa que vem sendo defendida por grupos políticos conservadores do Amazonas e de Rondônia.
“Para asfaltar não precisa derrubar nenhuma árvore. Mas a vaidade e a ‘estreiteza’ política… e se essa política da ministra Marina Silva desse certo, ela não seria candidata por São Paulo, ela seria candidata pelo estado dela, o Acre”, afirmou o senador em pronunciamento no Senado Federal.
Em entrevista exclusiva à CENARIUM, na edição de julho (ano 4, nº 37), Marina Silva refutou este discurso, apontando que a obra não teve andamento, mesmo durante os 15 anos em que esteve longe do ministério. “Se fosse fácil fazer, talvez tivesse sido feito (…) Na verdade, é um empreendimento complexo, de altíssimo impacto ambiental e social, e não é por acaso que, hoje, o Estado do Amazonas, que era o Estado em que tínhamos os menores índices de desmatamento, é o terceiro no ranking do desmatamento da Amazônia”, afirmou.
Impasse
Um capítulo decisivo na história da BR-319 ocorreu em 2005, quando uma decisão da 2ª Vara Federal do Amazonas determinou que ela precisaria ser reconstruída, e não somente recuperada. Isso gerou a necessidade de um licenciamento ambiental para repavimentar a rodovia, tornando o processo mais burocrático.
Um passo importante no processo de licenciamento foi dado em 29 de julho de 2022, com a concessão da licença prévia pelo Ibama, para asfaltamento do trecho do meio, entre os quilômetros 250 e 656. Apesar da emissão do documento, as obras ainda não podem começar de imediato, pois ainda há condicionantes ambientais a serem cumpridas pelo Dnit.
As condições da BR voltaram à tona no dia 11 de agosto, quando foi anunciado o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A BR-319 ficou de fora. Segundo a justificativa do governo federal, a obra precisa de um plano específico, com garantias de proteção ao meio ambiente.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou em coletiva, no último dia 16 de agosto, que o governo considera a possibilidade de usar o Fundo Amazônia para dar viabilidade ambiental às obras. Segundo ele, será criado um grupo de trabalho que vai avaliar a sustentabilidade e o uso de tecnologias de baixo impacto na rodovia.
“Vamos apresentar um modelo inovador que é fazer uma concessão daquela rodovia para ter uma gestão privada com a parada de todos os veículos que vão entrar nessa rodovia porque ela é uma rodovia de baixo fluxo”, declarou.
Questionado sobre atualizações acerca desta possiblidade, o Dnit não se manifestou.
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