Um ano após queda de pontes, viagem pela BR-319 ficou duas horas mais longa

Trecho em obras em ponte da BR-319 (Reprodução/Internet)
Yana Lima – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Pouco mais de 800 quilômetros separam Manaus, capital do Amazonas, de Porto Velho em Rondônia, pela BR-319, única rodovia que liga Amazonas e Roraima a Rondônia, e, consequentemente, ao restante do Brasil. A situação da rodovia, que já era crítica, ficou pior com queda das pontes sobre os rios Curuçá e Autaz-Mirim, no município do Careiro da Várzea (a 88 quilômetros de Manaus).

Quem utiliza frequentemente a estrada conta que a viagem entre as duas capitais aumentou em, aproximadamente, duas horas após os ocorridos. A queda da ponte sobre o rio Curuçá, no quilômetro 23 da rodovia, completa um ano nesta quinta-feira, 28. Cinco pessoas morreram. Dez dias depois, caiu a segunda ponte, dessa vez sobre o rio Autaz-Mirim, no quilômetro 25.

A BR-319 é a única ligação terrestre do Amazonas e Roraima ao restante do País (Joel Silva/Amigos da BR-319/Arquivo Pessoal)

Sem previsão para a conclusão das novas pontes, a travessia nestes trechos agora é feita por balsas. Devido à seca dos rios, estas embarcações estão atracadas e funcionam como uma espécie de ponte. Se na estiagem, a viagem Manaus-Porto Velho leva em torno de 16 horas, no período chuvoso são quase 24 horas de percurso, segundo relato de motoristas que utilizam a rodovia com frequência. De caminhão, o trajeto pode levar mais de um dia, a depender das condições climáticas.

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O presidente da Associação dos Amigos e Defensores da BR-319, André Marsílio, relata que além de atrasar o transporte de mercadorias e pessoas, as condições da rodovia aumenta m os custos logísticos e comprometem a economia local e regional.

“Ficou bastante complicado, pois o tempo de viagem agora é maior e a questão do transporte logístico, tanto de material de consumo quanto dos produtores, tornou-se ainda mais desafiadora. Já era complicado levar uma hora de balsa do Ceasa e, agora, a situação piorou consideravelmente com os atrasos ocorridos no Rio Curuçá e no Autaz Mirim”, protestou.

Sem respostas
Obras na ponte sobre o Rio Curuçá começaram 10 meses após colapso, e ainda estão na fase de fundação (Foto: Arquivo Pessoal – Joel Silva – Amigos da BR-319)

Um ano após a queda da primeira das duas pontes que caíram na rodovia, não existem prazos precisos sobre quando a reconstrução será finalizada, nem a conclusão das investigações sobre as causas do ocorrido. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (Dnit) informou que os projetos e obras da ponte Autaz Mirim já estão contratados e a empresa já está mobilizada com canteiro de obras no local.

Em nota, a autarquia informou que as equipes ainda trabalham na remoção dos escombros da antiga ponte. A construção da nova ponte ainda está na fase inicial, na etapa de fundação. Sobre as causas dos colapsos nas pontes, o órgão informou que aguarda a conclusão das investigações da Polícia Civil e da emissão do laudo técnico do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) para determinar o que provocou o colapso na ponte.  A equipe entrou em contato com ambas as instituições e aguarda retorno.

Uma reportagem da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, publicada em novembro de 2022, afirmou que um estudo de 2021 já apontava que esta era uma “tragédia anunciada”.

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A culpa é da ministra?

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima

De um lado, defensores das obras dizem que a pavimentação irá garantir o desenvolvimento do Estado e aumentar a proteção da floresta. De outro, ambientalistas temem que a rodovia amplie o desmatamento e o alcance da devastação da floresta próxima à rodovia.

Durante votação que aprovou o Projeto de Lei do Marco Temporal (PL 2.903/2023), nesta quarta-feira, 27, o senador pelo Amazonas Omar Aziz (PSD) atribuiu o atraso nas obras à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Ele a acusou de praticar o que chamou de “política de extermínio” e “manutenção da floresta em pé”. A fala reproduz uma narrativa que vem sendo defendida por grupos políticos conservadores do Amazonas e de Rondônia.

“Para asfaltar não precisa derrubar nenhuma árvore. Mas a vaidade e a ‘estreiteza’ política… e se essa política da ministra Marina Silva desse certo, ela não seria candidata por São Paulo, ela seria candidata pelo estado dela, o Acre”, afirmou o senador em pronunciamento no Senado Federal.

Em entrevista exclusiva à CENARIUM, na edição de julho (ano 4, nº 37), Marina Silva refutou este discurso, apontando que a obra não teve andamento, mesmo durante os 15 anos em que esteve longe do ministério. “Se fosse fácil fazer, talvez tivesse sido feito (…) Na verdade, é um empreendimento complexo, de altíssimo impacto ambiental e social, e não é por acaso que, hoje, o Estado do Amazonas, que era o Estado em que tínhamos os menores índices de desmatamento, é o terceiro no ranking do desmatamento da Amazônia”, afirmou.

Impasse

Vista aérea da BR-319 no KM 272, no Amazonas (Reprodução/Michael Dantas)

Um capítulo decisivo na história da BR-319 ocorreu em 2005, quando uma decisão da 2ª Vara Federal do Amazonas determinou que ela precisaria ser reconstruída, e não somente recuperada. Isso gerou a necessidade de um licenciamento ambiental para repavimentar a rodovia, tornando o processo mais burocrático.

Um passo importante no processo de licenciamento foi dado em 29 de julho de 2022, com a concessão da licença prévia pelo Ibama, para asfaltamento do trecho do meio, entre os quilômetros 250 e 656. Apesar da emissão do documento, as obras ainda não podem começar de imediato, pois ainda há condicionantes ambientais a serem cumpridas pelo Dnit.

As condições da BR voltaram à tona no dia 11 de agosto, quando foi anunciado o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A BR-319 ficou de fora. Segundo a justificativa do governo federal, a obra precisa de um plano específico, com garantias de proteção ao meio ambiente.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou em coletiva, no último dia 16 de agosto, que o governo considera a possibilidade de usar o Fundo Amazônia para dar viabilidade ambiental às obras. Segundo ele, será criado um grupo de trabalho que vai avaliar a sustentabilidade e o uso de tecnologias de baixo impacto na rodovia.

“Vamos apresentar um modelo inovador que é fazer uma concessão daquela rodovia para ter uma gestão privada com a parada de todos os veículos que vão entrar nessa rodovia porque ela é uma rodovia de baixo fluxo”, declarou.

Questionado sobre atualizações acerca desta possiblidade, o Dnit não se manifestou.

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