Vítima de feminicídio no AM compartilhava conteúdos sobre família tradicional: ‘Esposa é prioridade’

Fotos publicadas por Brenda Sales Miller no Facebook. (Reprodução/Facebook)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Brenda Sales Miller, 31 anos, assassinada com três tiros na cabeça pelo esposo, o policial militar Waldo Plácido Miller, 37 anos, tinha o hábito de compartilhar, nas redes sociais, fotos do então marido e dos dois filhos, além de vídeos com conteúdo religioso que tratavam sobre a importância de valorizar a família. Ela foi vítima de feminicídio durante uma confraternização em um sítio no quilômetro 12 da BR-174, em Manaus (AM).

Após matar a esposa com três tiros na cabeça, o policial militar se matou com um tiro. Informações fornecidas por testemunhas à polícia indicam que o casal, separado por cerca de dez meses, estava em processo de reconciliação. Há relatos de que o rompimento ocorreu devido às agressões de Waldo.

Uma das publicações, compartilhada em maio de 2019, foi um vídeo do pastor Cláudio Duarte, famoso por seu jeito descontraído de abordar assuntos religiosos e sobre o matrimônio. No conteúdo, ele critica homens que não valorizam as esposas e os aconselha a aprender a colocar as companheiras como prioridade. “Primeiro é Deus, depois a minha mulher, depois a minha família, depois a minha igreja“, diz Duarte, lembrando ainda que as mulheres devem ser tratadas com gentileza. Brenda reagiu com palmas à publicação.

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Compartilhamento de Brenda Sales Miller no Facebook. (Reprodução/Facebook)

Em outro compartilhamento, de julho de 2017, Brenda Miller compartilha outro vídeo falando sobre o valor das pessoas para Deus. “Eu tenho valor. Deus me ama“, diz ela na publicação.

Compartilhamento de Brenda Sales Miller no Facebook. (Reprodução/Facebook)

As fotos com a família e o esposo tomam conta das publicações de Brenda Miller, incluindo o casamento, uma das gestações e o nascimento de um dos filhos. O casal se casou em 2015 e, em 2018, nasceu o filho mais novo.

Fotos publicadas por Brenda Sales Miller no Facebook. (Reprodução/Facebook)
Foto publicada por Brenda Sales Miller no Facebook. (Reprodução/Facebook)
O crime

Segundo testemunhas que estavam no local do crime e informaram à polícia que, em determinado momento durante a confraternização, Brenda foi ao banheiro, sendo seguida por Waldo. Pouco tempo depois, tiros foram ouvidos. Familiares correram para o cômodo, mas Waldo havia trancado a porta.

Após arrombá-la, amigos do casal encontraram Brenda sem vida, atingida por três tiros na cabeça, e Waldo também já sem vida, segurando uma arma. A perícia concluiu que Waldo foi o responsável pelos disparos. Depoimentos de amigos revelaram um histórico conturbado de violência doméstica no relacionamento do casal.

Ainda conforme testemunhas, Brenda chegou a romper o relacionamento devido às agressões, mas foi persuadida por Waldo a reconsiderar sua decisão. A polícia está agora investigando se houve algum conflito durante a festa que culminou com a tragédia.

Feminicídio

O feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher, e as motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres. Em 2015, a Lei nº 13.104/2015 tornou o feminicídio um homicídio qualificado e o colocou na lista de crimes hediondos, com penas mais altas, de 12 a 30 anos. É considerado feminicídio quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, em 2022, uma mulher foi morta a cada seis horas no País. No total, foram 1.437 vítimas de feminicídio no ano passado, um aumento de 6,5% em relação aos 1.347 registrados em 2021.

O levantamento mostrou, ainda, que sete de cada dez feminicídios, a vítima foi morta dentro da casa em que vivia. Na maioria das vezes, o autor do crime foi seu parceiro (53,6%) ou ex-parceiro (19,4%). Em 10,7%, a mulher foi morta por outro familiar, como filho, irmão ou pai, em 8%, por algum conhecido, e em 8,3% por uma pessoa desconhecida.

Edição: Yana Lima

Revisão: Gustavo Gilona

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